Querer-se bem - primeiros passos

É muito simples focar-se sobre os outros: observa-los, critica-los, elogia-los, ajuda-los e assim por diante; até entende-los, as vezes. 
Mas muito mais complicado é focar-se sobre si mesmos de maniera honesta e corajosa: olhar-se por dentro e entender-se até chegar ao ponto de aprender a aceitar-se, para depois, finalmente e justamente, aprender ou começar querer-se bem. Isto sim que é difícil. Porque, sem dar-se conta, estamos sempre sujeitos e expostos aos auto-julgamentos: muitas vezes impiedosos. 

As frustrações, o sofrimento, o sentimento de inadequação, muitas vezes, mas muitas mesmo, vem e dependem justamente desta rigidez que alimenta e sustenta o julgamento negativo ou perfeccionista a respeito de si mesmos. 
Tudo isso leva a uma dramática consequência: a dificuldade ou a impedimento em e para querer-se bem. 
De fato, se aprende a querer-se bem a partir da infância. 
A maioria das vezes, praticas educativas e comunicativas erradas como o: “se não faz isso ou se faz aquilo não te quero mais bem” ou “eu te amo quando tu faz ou faz isto ou aquilo” ou todas as formas de ameaça de punição ou castigo se não aconteceram umas condições ("se faz isso ou não faz aquilo então vais ser assim assado …”) produzem um circuito negativo e um circulo vicioso baseado sobre a internalização da ideia que para serem amados é preciso serem perfeitos. Isto, ao longo do tempo, vai fortalecer a dificuldade de dar-se conta do que se quer; a dificuldade em saber escutar-se e respeitar-se, e pretender exigir com si mesmos e para si mesmos o que faz bem, sendo que tenderá-se a agir e sentir, colocando o outro na frente. 
Moral da historia, o vinculo da ideia da perfeição absoluta é algo que torna cegos sobre a sua verdade interior. 

E aqui vem o ponto e a razão dessa coluna. Muitas vezes, no meu consultorio, me deparo com pessoas que desenvolvem toda uma serie de automatismos que levam a mesma a sofrer ou até ter algumas constelações sintomáticas patológicas (como os ataques de panico, por exemplo). 
Esses automatismo tem a ver com o “não conseguir ou não saber querer-se bem”. 
Portanto é na terapia que tem que aprender-se os primeiros passos para quebrar o paradigma vicioso do sentir que é preciso serem perfeitos para serem amados, portanto julgando-se, e começar a amar-se por como se é, portanto aceitando-se. 

Mas como fazer isso? O que significa exatamente “?querer-se bem”? Como se aprende? Como se começa? A meu ver ... o primeiro passo para querer-se bem é visualizar, nutrir e agir aquela  força de querer e conseguir renunciar ao que você gosta e conta-se de querer ter, para afastar e excluir da sua vida o que machuca e faz mal, quando isso vem junto, no mesmo pacote, ao que deseja-se e gosta-se. 
Querer-se bem, de fato, começa no momento em que uma pessoa tem a atitude e a força de renunciar a todo um pacote, que inclui dentro de si, seja o que faz bem e quere-se, mas seja, também, algo que deixa muito sofrer e infelizes. A capacidade de renunciar a algo de bom para afastar e limpar-se de algo de ruim, é ao meu ver o principio do proporcionar-se uma vida melhor, baseada sobre o respeito de si mesmos. 
Nesse sentido, uma ouvinte do programa radio Parla con Deny, me escreveu perguntando-me o que caracteriza essa epoca e esse pensamento porque ela considera o sofrimento e a alegria dois lados da mesma moeda e fica arrepiada em ver e dar-se conta de como hoje existem pais que ficam ansiosos para querer evitar e excluir qualquer contato com qualquer forma de sofrimento ao e para os filhos. Ela acha aberrante toda aquela ideia e pratica de demonização da dor, assim como acha absurdo e errado o trabalho de substituir-se e mimar: trabalho que muitos pais fazem com os filhos justamente pensando que é bom e justo que os pais façam tudo o possível porque os filhos nunca entrem em contato com o sofrimento. E Barbara, esse o nome dela, finaliza dizendo: "comportando-se dessa forma, assim, negando a mesma ideia do direito ao sofrimento,  podem-se criar, com certeza, apenas babacas e frágeis, incapazes de ser felizes". Porque tristeza e alegria são justamente dois lados da mesma moeda.

Eu prefiro não julgar. Mas confirmo que vejo substanciais mudanças nas pessoas com quem converso depois que se dedicaram a aprender querer-se bem nas consultas. Porque o que é importante que seja entendido, é que quando querer-se bem não vem natural (desde a infância) então aprender a faze-lo tem que ser encarado como um verdadeiro e proprio trabalho. 

A solução e a felicidade não caem do céu. Mas comiam de dentro. 

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