Trump - o chinelo velho ganhou
Começamos quebrando um paradigma: o fato que Trump tenha sido
eleito Presidente dos USA é surpreendente sim, mas
inacreditável não.
É só olhar a história: com a coragem da autocritica e da
humildade que a nossa espécie precisaria para aprender dos seus próprios erros
e atrocidades.
Se formos ver todas as vezes que se configuraram algumas
“condições culturais especificas”, as democracias entregaram cegamente o poder
a figuras carismáticas, autoritárias, de ruptura, que marcadamente se
revoltavam contra as logicas políticas e partidária vigentes; verdadeiros
“insanos”, espelho de uma sociedade insana, que prometiam (e prometem) de
devolver grandeza ao Pais e ao povo em contraposição a tudo e todos.
Essas duas condições são: 1) a percepção de uma crise
econômica: ou seja a sensação que especialmente a pequena-média burguesia (a
que faz a diferença nos votos) tem de perder o próprio status-quo, material e
de segurança; 2) os fortes e incontroláveis fenômenos migratórios, que provoca
as infraestruturas e ativa as memorias celulares de invasões e do perigo do desconhecido.
Em termos psicológicos essas condições se traduzem em MEDO;
medo de retroceder por causa dos outros, com consequente xenofobia e
resistência ao progresso e ao diálogo. Em termos sociais se traduz em exclusão
do “outro” e retiro autárquico que, de sua vez, se torna, em termos políticos e
econômicos, protecionismo e ereção de barreiras fiscais, físicas e mentais.
Este roteiro histórico já aconteceu; exemplos são o Hitler
(Alemanha nazista); Mussolini (Itália fascista); Berlusconi (Itália pós mãos
limpas); Haider (Áustria neointegralista), quase Le Penn na França e o Brexit
(saída do UK do UE). Etc.
Portanto que Trump ganhou não é um fenômeno extraordinário.
Mais do que inacreditável e incrível. Que as dinâmicas se reproponham; que os
erros se repitam.
Mas essa é a democracia.
A democracia feita de instintos
viscerais, vilipendio de memória e ausência de consciência.
Quando as pessoas
estão com medo e desconfiança, elas se bloqueiam. Tudo o que almejam é sair
deste estado de insegurança desgastante; rapidamente. Não importa como.
Quem
promete fazer coisas tão horríveis que “ninguém faria” (por vergonha) mas que
levasse aos efeitos cobiçados por “todos” ...bom, este é o cara que o medo
elege a líder.
No especifico dessas eleições viemos duas anomalias. Primariamente,
dois candidatos dos anos ’40. Que já é um retrocesso cultural. Os mais velhos
da história USA: de um lado a Clinton, a pior candidata que o establishment
radical chique pudesse propor. Mas os democratas acharam que contra um fantocho
laranja que nem o Trump não precisasse colocar os craques (Senders) para
ganhar. Se avaliou como uma boa ocasião para pagar “algumas dividas” internas
premiando uma Clinton e marcar a história com a primeira presidente mulher.
Mas
não foi assim. Inclusive porque a América, “liberal e justa”, é ainda
fortemente misógina e racista.
Não deu.
Apareceu o Trump; o chinelo velho.
O
que se gosta em casa mas não se admite fora, por vergonha; algo de
imprevisível; além do sistema e dos partidos: tanto é que no primeiro discurso
fez questão de destacar que ele é um “movimento” e não um partido. Assim como o
fascismo. Perigosíssimo.
Mas “alea iacta est”. E agora?
- O maior sucesso do Obama foi sem dúvida o acordo sobre o nuclear. O Trump já declarou que o Irã não é problema dele. Politicamente essa declaração libera a Coreia e o Japão a desenvolver o nuclear. E Cuba? E Síria? E China? Nada bom.
- Se fechar as barreiras com o México (muro), estes migrantes, bloqueados ao norte, começarão a migrar para o Sul. Portanto também no Brasil, mudando os equilíbrios geopolíticos sul-americanos.
- Se mudar o paradigma econômico de liberal a protecionista todos os acordos comerciais não valarão mais nada. Em tese o dólar e ouro poderiam fortalecer-se como bem refúgio ou ao contrario dissipar-se. Esta insegurança por enquanto leva os mercados a cair. Quem puder compre ouro agora.
Um ponto está certo: o mundo não
é mais o mesmo. Voltou a ser o que já foi muitas vezes. Infelizmente.
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