O sucidio da Europa - migrantes e moedas

Todos os que olham para o mundo como uma casa global, além do próprio pomar, com certeza estarão nesses dias atónitos perante as continuas crônicas e imagens chocantes de migrantes abarrotadas nas fronteiras europeias e rejeitados com violência entre arame farpado e indiferença.
Sobre esse fenômeno já escutei, na região, inúmeras opiniões: a maioria baseadas sobre leituras superficiais ou utópicas ou emoções como o medo ou a culpa. 
Mas o Xisse da questão vai muito alem disso enquanto, de fato, está sendo a fenda que vislumbra e formaliza a crise da constituição europeia e o fracasso do seu projeto. O ponto central do que partir para entender a questão é que fundamentalmente a União Europeia, mais do que um acordo comercial (Shengen), é substancialmente um Estado de Direito fundado sobre uma convergência comum de princípios, direitos e deveres. E perante os milhares de prófugos em fuga das guerras, a política comum está se fragmentando por posições nacionalistas subversivas. O que está acontecendo é que os países da Europa de Leste estão unidos em dizer não em cumprir as quotas migrantes estabelecidas por Bruxelas, por uma razão: para evitar o precedente de consagrar permanentemente a imigração como uma questão europeia e não como um grão nacional.

Os fluxos de migrantes na Hungria, por exemplo, assim como em Lampedusa,  mostra claramente as insuficiências seja do actual sistema europeu de gestão do fenômeno, seja da utopia dos governos nacionais de ter a capacidade de resolver autonamamente. O ponto é que é obvio como “o prófugo” não é apenas um problema para o país de destino, mas também para toda a Europa e, especialmente, porque a maioria aponta ir para onde há trabalho, tem famílias, ou no Norte.

A Comissão Europeia tem tentado nos últimos meses propor um sistema obrigatório de quotas para a atribuição de migrantes. Um número muito baixo; certamente não apto resolver o problema, mas que força os governos nacionais para compartilhar a responsabilidade desta tragédia humana.

O fracasso é que hoje os governos da Europa Oriental são compactados para dizer não a política comum e manter a sua soberania em matéria de imigração: ou seja defendem o próprio pertencer a Europa quando se trata de receber os milhões de euros dos fundos estruturais e de coesão, usados por países como a Polónia, a Hungria e a Roménia, mas não quando se trata de compartilhar as dificuldades de países como Itália e Grécia, que sempre abrigam milhares de desesperados e países como a Alemanha e o Reino Unido que oferecem asilo político a centenas de milhares de refugiados.

Bom, populistas e nacionalistas não estão perdendo a oportunidade de protestar contra a Europa por causa da falta de solidariedade demonstrada sendo que, por ignorância ou malícia, muitos governos nacionais, dentro dos limites de poderes que lhes são conferidos por lei, estão fugindo de uma solução compartilhada. 

Este buraco politico-legal a respeito das responsabilidades de convergências está colocando toda a Europa em um beco sem saída que não só não vai levar a um resultado tangível, mas que também está manifestando o risco mais grave de implodir todo o projecto de integração europeia. Se chegaremos ao ponto que serão os países nas fronteiras, como Italia e Hungria, a gerenciar sozinhos as políticas de migração, por escolha ou porque não podem contar sobre os outros países unidos, chegaremos ao ponto que não veremos somente morrer muitas pessoas, mas também manteremos a Europa e consequentemente o Euro, com todas as repercussões que isso gerará nos países em desenvolvimento, cujas moeda e credito estão ligadas ao dólar e ao euro: Brasil incluído. Vista assim a questão migração não parece um problema dos outros, não é? 

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