Vir ao mundo não é suficiente para nascer (a relação com os pais)
Aprendi que
não é suficiente vir ao mundo para nascer.
Se nasce quando se encontra o
próprio EU. Se evolui quando se aprende a morrer e renascer continuamente.
Princípio que
vale desde o começo. A partir da relação com os pais.
Porque a
relação afetiva e o vínculo emocional entre pais e filhos constituem o amor
primário. As experiências sentimentais sucessivas, de fato, reproporão esse
esquema matriz. O problema é que, frequentemente, já se começa com o passo
errado.
Muitos filhos
vêm, desde o nascimento, cobrados por uma chantagem afetiva e/ou, desde já,
usados como banco genético para salvar a própria imagem ou casamento. Isso se
enraíza logo sem nem dar-se conta.
Quantos filhos
aceitam o conceito de: “eu te botei no mundo, então… tu me deves respeito,
obediência, etc. Eu mando”.
Nada de mais
errado.
O sentimento
mais importante que uma criança tem que desenvolver é a autoconfiança, a qual
tem a sua base na aprovação dos pais.
O que ocorre
somente quando entre eles se amam e juntos planejam e assumem o filho como
projeto de casal.
Nos outros
casos, as crianças sempre aprenderão a amar-se e amar de maneira imperfeita.
Por exemplo, associando: a) Amor e violência: quando vivem com pais que brigam,
batem, bebem ou são deprimidos (é suficiente um); b) Amor e materialismo
(aprendendo a ser objeto): quando vivem pais que aguentam a tristeza por
dinheiro, traem, controlam, prendem ou amam demais, superprotegendo; c) Amor e
desvalor - quando vivem pais que ficam ausentes ou exploram, chantagem ou
culpam os filhos por trabalho ou incapacidade emocional.
Nesses casos,
sem dar-se conta, a criança buscará esquemas de relacionamentos marcados por
violência, uso ou desvalor porque, sem culpas, aprenderam que isso é amor.
O ponto é que
as crianças que não se sentem amadas, não atribuem a falta de amor aos pais,
mas a si mesmos, sentindo-se culpadas de ter feito algo que levou os pais a amá-los
assim. Mas sendo que precisa receber amor, a criança começará a negar suas
emoções, para se adaptar a todos os tipos de requerimentos dos pais,
reduzindo-se a implorar uma esmola de amor. É bem comum que cumprirão todos os
esforços para fazer os pais felizes, chegando a adaptar suas exigências e a
mudar suas maneiras de sentir, na esperança de ser reconhecidas.
Muito
provavelmente permanecerão vinculadas aos pais só para os agradar e ter em
troca a ilusão através da dependência de ser amadas.
Minha sugestão
de psicólogo para sair dessa chantagem existencial? Sair da mentira desse amor,
entendendo que:
Não é verdade
que são os pais que conferem a vida. Que a dão de presente. Mas bem é o
contrário. Um ser que nasce, nasce intrinsecamente filho. É já filho. Todos nós somos filhos. É uma característica existencial. Não o contrário. Os pais, até
que nasce o filho, não são ainda pais. São simples seres humanos, filhos como
os outros. É o filho que, nascendo, cria-os enquanto pais; é o filho que dá a
vida de pais, que os cria. Isso comporta algumas consequências fundamentais a
serem assumidas de cada um: 1) não tem culpa por existir; 2) não tem dívida
para ter nascido; 3) tem sim responsabilidade e dever em educar os pais, ou
seja: são os filhos que tem que educar os seres que os nutrem a se tornar pais.
Como?
aprendendo a amar-se de maneira digna e antepor esse amor como um direito,
aceitando, com coragem, de explicar aos pais (e em os relacionamentos) a
maneira para fazê-lo; tendo a capacidade de contar com eles quando isso não
acontece.
Todos
precisamos de amor para existir. Mas o amor não se esmola. Se encontra, se cria
e se ensina. Com coragem e trabalho interior. A partir de si mesmos. E esse
trabalho nunca para.
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