Mas que crise?
Depois da Russia, é a volta de outro
país do Brics, ou seja, o Brasil, estar em dificuldades depois de anos de
crescimento econômico. Só para ter uma ideia: só em 2014 o país gastou 6% do
PIB em pagamentos de juros sobre a dívida. Mas quando ouço as pessoas reclamar
da “crise”, sempre me pergunto: mas de que crise estão falando? Econômica?
Financeira? E que ideia de mercado tem os que falam de crise? Que parâmetros de
avaliação vêm usados? Onde está a memória?
Quero dizer: nos últimos 25 anos o
Brasil tem visto altos e baixos. A inflação ao início dos anos 1990 aumentou
mais de 2.000%, e só a introdução de uma nova moeda em 1994 quebrou a
tendência. No final dos anos 90 o déficit do país e a elevada dívida pública
acumulada fez intervir Fundo Monetário em 2002. De repente, em seguida, a
situação mudou radicalmente entre 2002 e 2008, o país registrou taxas de
crescimento de 4% ao ano, com fortes aumentos das exportações de ferro,
petróleo e açúcar. Mas hoje o Brasil está em apuros novamente. Tudo isso
enquanto fruto de um plano de rápida criação de um mercado alternativo aos
ocidentais, estrategicamente planejado e implantado com plena consciência do
procrastine de uma enorme inflação. Tanto é que o crescimento foi, em média,
apenas de 1,3% ao longo dos últimos quatro anos e as previsões estimam uma
contração de 0,5% para este ano.
Justamente, as causas são um bloqueio
da procura interna devido a um aumento da inflação de mais de 7%. Além disso, o
país também está enfrentando uma seca que afeta da agricultura até a produção
de energia hidrelétrica. Três quartos da produção energética do país são
confiados às barragens, portanto, para evitar apagões (black-out), o governo
aumentou o preço da eletricidade, a fim de desencorajar o uso. Arthur Carvalho,
gerente do Morgan Stanley, aponta que o banco central não está disposto a
baixar as taxas de juro porque a inflação já viaja em percentagens muito
elevadas. Isso determina o aumento dos juros sobre o crédito e a redução ainda
maior da demanda doméstica.
Também do lado das exportações, a
situação não é a melhor. Os cinco países - China, EUA, Argentina, Holanda e
Alemanha - que, no passado, eram os que compravam a maioria dos produtos
brasileiros, hoje caíram nos seus pedidos. Para compensar a demanda, os
investimentos foram sempre uma boa alternativa na economia nos últimos anos. Em
2015 também vão estar abaixo das expectativas. Os grandes investimentos da
Petrobras foram congelados por causa de alegações de corrupção.
A situação da dívida pública (66%, o
maior entre os Brics) não indica uma tendência positiva. De 210 a 655 bilhões
de reais.
Me parece evidente que as razões dessa
queda são todas estruturais, ou seja, não há queda anormal, mas o
desenvolvimento que, nesses últimos anos, não se baseou sobre infraestruturas
produtivas e culturais adquiridas. Aliás, o fato de ter norteado a estabilidade
da moeda e os fluxos de crédito para inchar o comércio interno, implantando a
cultura da dívida, ao invés do que criar infraestruturas, foi uma escolha
político-determinante para criar um estado de alteração econômica
estupefaciente, “tudo e agora”. Mais ou menos como quando um cara bebe, é legal
estar naquele estado de embriaguez, mas depois vem a ressaca, que dói, até
voltar ao estado normal. Por acaso, algo de diferente do que está acontecendo?
Em um cenário de recessão econômica
global, estes problemas não serão fáceis de superar.
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