SE DEUS QUISER
As palavras expressam muito mais do que dizem. E eu, cívico, laico e que fiz cinco anos de teologia na Universidade Católica de Milão, sempre estremeço ao escutar a locução “se Deus quiser”, usada em cada frase, para finalizar qualquer assunto. Culturalmente, o “sDq” parece uma posição clara na disputa teológica milenária entre predestinação, livre arbítrio e responsabilidade do homem, com si mesmo e os outros. Em particular, parece apoiar a visão ultracalvinista de um mundo já totalmente alocado por vontade de Deus. Dele dependeria totalmente tudo o que acontece: um destino abrangido entre fatalismo e predeterminação. Algo que tira a responsabilidade do homem para as suas ações e a determinação dessas sobre os efeitos, individuais ou sociais que sejam; essa abordagem à vida parece ser ratificada por outras gírias recorrentes, tais como “pois é” e “fazer o quê?”, que legitimam resignação, respeito a uma realidade independente ou superior à própria vontade e determinação e reforç...