Tornado e inteligência política


Um dos erros que, ingenuamente, o povo costuma fazer, é achar que política seja em si mesma, conceptualmente ou intrinsecamente, inteligente: algo que os políticos gostam de deixar acreditar. Encontramos confirmação disso de um lado, por exemplo, do uso escancarado e aleatório dos termos “plano/planejamento”, “projeto” e/ou “objetivo” e, de outro, das inúmeras teorias de conspiração que, invariavelmente, acompanham as leituras dos eventos mais dramáticos ou significativos que mudam o curso do dia a dia, do Estado ou da cultura. E assim acostumamos introjetar a ideia de uma arguta transcendental paternalística inteligência atrás das locuções, como por exemplo, “plano de segurança”, “planejamento estratégico”, “projeto de desenvolvimento econômico”, “objetivo social”, etc.

Inteligência, etimologicamente falando, se refere à capacidade de entrar dentro das coisas, em profundidade, ou seja, aprofundá-las e entendê-las até a essência. A inteligência política teria, portanto, que referir-se à atitude de lidar e usar inteligentemente o presente para configurar e alcançar um futuro apto a maximizar a qualidade de vida geral dos cidadãos no respeito da constituição.

Bom, não precisa de um gênio ou de um italiano qualquer para dar-se conta que não funciona assim. Que tipo de inteligência podemos encontrar ou deduzir a partir das linhas estratégicas políticas ou dos procedimentos que continuamente os vários governos de todos os níveis nos propõem? Por exemplo, onde está a inteligência na política econômica federal que nos últimos 20 anos, pelo menos, abandonou o modelo de economia de Estado (Petrobras, Telebrás, Eletrobrás, etc.), típica dos modelos centrais e das ditaduras (o filósofo Hobbes chamou o Estado de monstro com poder absoluto sobre o indivíduo) e abriu à privatização, continuando nestas empresas como minoritário principalmente por meio dos fundos de pensão e do Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social (BNDES), que viraram grandes acionistas. Em seguida a tendência de encolhimento do Estado foi revertida. O BNDES passou a conceder financiamentos a juros camaradas para realizar fusões entre grandes empresas. A ideia básica era sacrificar a competição no mercado nacional e lançar produtos no exterior, o que raramente aconteceu (por exemplo foi o caso da Oi que surgiu após a compra da Brasil Telecom, e da BRE com a aquisição da Sadia pela Perdigão). 

Com a Dilma, a intromissão estatal se acentuou. O objetivo era virar o jogo pra promover o mercado interno. Exemplos? Decidiu-se pela intervenção direta na Petrobras para conter o aumento no preço da gasolina; no setor bancário, obrigou a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil a cobrar juros mais baixos. Mas as ações caíram muito e as dívidas cresceram. As intervenções se tornaram sinônimo de negócio errado. O capital que foi emprestado não será produtivo e haverá problemas para recuperar os investimentos.

Se abriu, então, aos leilões e ao fortalecimento dos laços BRICS, tentando tampar o buraco; mesmo porque com um custo da máquina do estado tão alto (ou seja os salários dos funcionários públicos e o uso do concurso como instrumento de controle social) mais do que da Argentina o fantasma é o da Grécia, com a implosão do país por golpe da inflação. 

Vocês conseguem enxergar inteligência nisso? Enxergam atitudes aptas a configurar o presente para o futuro? Ou enxergaram outras finalidades particulares em alguns desses planejamento gerais? 

E em nível local? Vocês enxergam essa inteligência onde? No “objetivo” de deixar a cidade de São Miguel do Oeste por anos sem praça enquanto sacrifício e chantagem de brigas partidárias? No “projeto” de desenvolvimento das infraestruturas que consta em tampar ciclicamente os buracos das estradas após cada chuva? No “planejamento” de segurança na viabilidade que consta em colocar novas lombadas no dia seguinte um acidente na Willy Bart ou no caminho para a UNOESC? No “plano” de saúde que consta em lotar as farmácias de remédios ao invés do que prevenir aumentando a educação? E falando de educação ... como planejar inteligentemente uma evolução da cultura politica,  cívica, a saúde, a viabilidade, de segurança, ao transito, etc. quando a falta de educação nessas áreas alimenta os negócios?    

A verdade é que a política, na maioria das vezes, nada é mais do que uma administração do poder do presente através do populismo e da retórica para garantia de um poder interesseiro do futuro. Ou seja? Ou seja, não fazer nada que não seja um interesse atual até que não estoura o inevitável e daí se tampa o buraco com um papo bom e várias promessas.

Estou bem curioso agora de escutar a justificação e as promessas que serão feitas a Xanxerê e a todos nós, referentes ao fato que a única estação meteorológica com radar preposta a relevar e prever as calamidades naturais, adquirida pelo governo de Santa Catarina está inoperante desde o dia 19 de janeiro de 2015 devido a uma falha na fonte de alimentação de alta tensão. e, mesmo funcionando, não cobrearia todo o Extremo-Oeste. 

Quanta inteligência precisava para evitar essa tragédia?





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