A Policia parla con Deny e com a sociedade - Reflexões post-debate PcDy
O programa radio Parla con Deny (facebook e canal youtube),
apresentado pelo escrevente, essa semana abordou reflexões e considerações
sobre as competências, a doutrina de atuação/ação e a relação com a sociedade
da instituição da polícia brasileira; em particular na mesa do programa
participaram o Delegado Regional da Policia Civil, Dr. H. G. Muxfeldt, a
Delegada da Comarca de SMO, Dr.a L. Junges e o Major subcomandante de batalhão
da Policia Militar, Dr. M. Wallau em representação das duas instituições policiais
estaduais reconhecidas pelo artigo 144 da Constituição, além das federais Federal,
Rodoviária e Ferroviária.
A crônica das últimas semanas (Menino Eduardo, Alan de Souza
Lima, etc.) que esposem alguns policiais, e consequentemente toda a instituição,
aos imediatos e automáticos ataques mediáticos de injustificada violência
preventiva e impune corporativismo, nos ofereceu a pauta para fazer o ponto
sobre a cultura interna da Polícia, a sua filosofia social e as práticas de
atuação.
Emergiram considerações muito interessantes referentes aos
processos de mudança e reorganização interna de uma pre-instituída cultura
policial. No especifico, parece que a Polícia, braço do poder executivo,
constitucionalmente autorizada a uso da força, e anel de conexão entre o poder
legislativo e jurisdicional (ou seja da fiscalização e da repressão), esteja
hoje acusando, metabolizando e desenvolvendo um processo de transformação ao
mesmo tempo histórico, político e social, interno e externo, direto e indireto.
O que significa? Significa que a Polícia, assim como todas
as outras instituições, espelha, absorve, produz e reproduz, conforme a uma
cultura democrática ainda embrional, as características culturais e atitudinais
de uma complexa sociedade heterogênea e desigual. Significa que, assim como a
política é corrupta e conivente enquanto a sociedade é basicamente corrupta e
conivente, a polícia tem na sua forma histórico-cultural e na sua organização
funcional-formativa, uma violência intrínseca espelho de uma sociedade violenta,
seja de um ponto de vista político que social. Violento era o uso instrumental
da força para garantir a segurança nacional e da conservação do poder
governamental, assim como as instituições do DOI-CODI e do DOPS testemunham;
bélico o preparo dos policias preparados e predispostos a enfrentar uma visão
da sociedade violentamente criminosa em uma rígida hierarquia militar, assim
como a Inspetoria Geral das PM, ainda ativa apesar não ser reconhecida da
Constituição, lembra pra nós; violenta a pretensa da sociedade de uma resolução
punitiva, paternalística e autoritária do crime por mão do Estado (“bandido bom
é bandido morto”...ou pelo menos excluído conceptualmente da sociedade cívica
por meio medidas contentivas: penitenciários e extensão da responsabilidade
penal).
Mas as coisas estão mudando.
Se a instituição da polícia fosse uma arvore, poderemos
dizer que a linfa que ainda passa pelo tronco e nutre os ramos, refere-se ao
modelo francês do passado, onde a polícia encarna mandatos de conservação da
ordem e do poder do estado através de uma bélica organização hierárquica: nesse
caso a arvore seria um cacto e as flores agulhas. Mas o arado da revolução
democrática mexeu com o terreno de cultivo, o qual está nutrindo com novas
partículas culturais, novos protocolos internos, novas ideias, novos
profissionais, com valores, visões, módulos formativos e referencias
diferentes: mais humanitárias e mais conformes ao modelo anglo-saxão de serviço
e proteção a população honesta, mais do que a repressão preventiva e punitiva
do crime.
Um processo ainda em progresso; que precisa do seu tempo e das suas
estações para ser finalizado, para que as agulhas caiem e desabrocham as novas
flores de uma fluida cultura democracia (que parta da responsabilidade cívica e
competente dos cidadãos no respeito das instituições) e o cacto vire ipê
amarelo.
No caminho precisa esclarece algumas controversas e
confusões, especialmente na atribuição de competências e nas estruturas
burocráticas: primariamente a questão do ciclo completo das policias e a
regulamentação contratual/salarial.
Mas o caminho democrático é em andamento, como o fato que
servidores ilustres, ao topo da hierarquia institucional, se disponibilizam
para dialogar e responder de maneira transparente e critica a população,
confirma. De fato a instituição da polícia se sentou na mesa do processo de
democratização cultural. Agora esperamos que o povo saia das estradas e se
senta nas mesas.
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