Abrir-se ao futuro para o bem dos nossos filhos
Em uma recente entrevista me perguntaram o que eu espero
para o futuro da cidade. Achei uma pergunta realmente inteligente. Talvez a
resposta, que depende da minha capacidade de explicar e daquela dos leitores de
questionar-se, não será da mesma espessura.
Mas uma reflexão vale sempre a pena, então parto de um
ponto: SMO é uma realidade fechada. Dá pra dar-se conta disso de várias e
diferentes prospetivas. É fechada: nos grupos e nos relacionamentos; fechada na
economia, na abertura as empresas (é só olhar das leis 3445 do Basso até a 5526
e 5990 do Valar) e no comercio (principalmente interno); fechada no ensino: os
professores de hoje são os alunos de ontem: padrão que estruturalmente leva a
repetir o conhecido; é fechada mesmo na arquitetura com as suas quadras
regulares e casas acercadas para proteger-se de maneira inviolável.
Além dos fatores originais devidos a morfologia isolada da
região e a economia historicamente agrícola, e por isso limitada na produção e
na distribuição dos recursos e da riquezas, situo a origem dessa característica
no fato que SMO mudou e cresceu muito rapidamente sem ter refletido
suficientemente sobre como e porque esse desenvolvimento se desencadeou. A
realidade atual parece evidente e consta em benefícios económicos mesmo que se
baseiam sobre valores nominais e dividas. Em palavras simples, muitos se
tornaram ricos sem dar-se conta das “razões contingentes” do porquê e de como
melhoraram a condição. E não simplesmente questão de trabalhar. As gerações
passadas dessa região, os pais e os avos, também trabalhavam. Consegue que
muitos se fecham para proteger tudo isso do medo de perder esse status-quo,
sucesso e bem estar. Porém, não entendendo como chegou a riqueza, nem dá para
bem entende como se pode perdê-la (outra falta de reflexão). Por essa razão,
tudo o que é “diferente” e que pode levar “aberturas” se torna uma ameaça, algo
de perigoso, e as necessidades de (se) segurar e (se) proteger levam a
fechar-se seja de um ponto de vista social e seja de um ponto de vista
educativo, sendo que os filhos ainda representam o “bem” da família. Quase uma
propriedade: de valor e de produto. De identidade e para a sucessão (por
exemplo de empresas familiares).
O ponto problemático é que, inevitavelmente, essas atitudes
não geram desenvolvimento e/ou capacitação. E quem vai pagar as consequências
será a geração dos adolescentes de hoje. Uma geração que vai perder-se, assim
como já aconteceu na EU e nos USA nos anos ’70, entre desorientação, baixo
limiar a frustração, falta de iniciativa, capacidade e autonomia, além do
recurso as drogas (álcool e fármacos incluídos).
Tudo isso por causa de falta de preparo e mensagens
ambivalentes: De um lado os pais declaram aos filhos que podem ser o que eles
querem (estudar, ser altos profissionais, viajar, comprar, etc.), espelho do
sucesso deles mesmos, de outro inculcam que não sabem fazer nada (mimando,
resolvendo, comprando, etc.), assim que os pais possam continuar “segurando” os
bens deles (trabalho e filhos) fechando(se) as perdas.
Mas o futuro depende do que a gente faz hoje; por isso a
minha esperança para o futuro de SMO é que a gente aprenda a se abrir, ou seja
a disponibilizar-se para um preparo técnico e emocional as mudanças: por
exemplo antes de casar-se ou de ter filhos ou na passagem das estudos ao
trabalho. Isso é simplesmente necessário para entregar o futuro aos filhos,
ajudando-os a construir-se o deles. Para concretiza-la seria necessário um
trabalho integrado entre bons psicólogos e bons políticos, para que
trabalhassem coordenando-se em planos sérios de capacitação pessoal, cultural,
civil e econômica; de outro um interesse das mesmas pessoas a arrumar-se para o
futuro e não apenas para defender o benefício do presente, cada um o seu.
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