Facebookistan e a manipulação das emoções
Talvez nem todos saibam disso, mas nesses dias se está tendo
uma tremenda controvérsia sobre o Facebook e a sua política de conduta, tanto
em termos culturais que legais, até chegar ao supremo comité de garantia do Reino
Unido.
A bomba explodiu quando no dia 28/06, Wired revelou ao mundo
de uma experiência conduzida pelo Facebook de manipulação das emoções sem
conhecimento dos seus usuários. Os pesquisadores da rede social, entre 11 e 18
fevereiro 2012, intervieram para modificar diretamente, de maneira oculta, o
algoritmo que determina o fluxo de notícias sobre o quadro de avisos. Um
negocio que afetou cerca de 700 mil usuários.
Em termos simples, o Facebook, tem manipulado o fluxo de visibilidade
(flowfeeds) mostrando “para-nos” o que queria nos víssemos das publicações dos
nossos amigos e escondendo o que não queria fosse visto. Tudo isso para
demonstrar que as pessoas que recebem mensagens mais felizes postam mensagens mais
felizes ou ao contrario, tristes: estudo, este, publicado nos atos da Academia
Nacional de Ciências.
Agora, deixando de lado as dúvidas sobre a validade de
construto do experimento (alias enorme em termos de amostra) e o fato que
qualquer psicólogo preparado sabe explicar o funcionamento do contagio
emocional bem além das velhas teorias das multidões, por anos aplicadas a
persuasão comercial e a política, mas com base na neurociência moderna e, em
particular, nas mais recentes descobertas sobre os neurônios-espelho (embora
aqui não se ensinam), o que eu acho (vale a pena destacar)desse caso é o
seguinte:
Não importa do tratamento dos dados pessoais que
continuamente aceitamos nos termos de inscrição, inclusive isso não muda os hábitos
de consumo. Mas o fato que foi feito de maneira oculta (a fórmula "para
fins de pesquisa" nas leis de privacidade de Fb foi adicionada 4 meses
após o experimento, o que confirma a má-fé) e com a presunção de passar a
especulação comercial (típica do pragmatismo americano) como pesquisa social, choca
profundamente com a sensibilidade do direito à privacidade (típica europeia). O
“dinheirismo” não domina sobre o direito e o que se permite por fins comerciais
converte-se em indignação se se torna ciência.
O segundo ponto é ético. Aqui se joga sorrateiramente com as
emoções das pessoas como fossem dados. Mas alguém se preocupou de uma possível reação
de um deprimido sob bombardeio estratégico de mensagens negativas?
A dura realidade é que, com os seus bilhão e meio de
usuários, o Fb sabe que podem fazer o que quiser, porque se tornou
indispensável e tem o domínio da necessidade e do desejo: isso legitima uma conduta
antiética do mercado e do respeito das pessoas. Tudo isso de maneira indireta e
oculta.
Resumindo: criar dependência, controlar necessidades e desejos e
manipular emoções e informação. Será que este modelo Facebookistan é o único
que apanhamos diariamente e que é tão diferente das varias formas de governo e
de comunicação? É bom dar-se conta disso, pelo menos antes de votar.
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