Espelho espelho meu ... quem é mais brasileiro do que eu?

E espelho foi. Na semana passada a palestra, aberta ao publico, da Cdl de SMO “Espelho espelho meu, quem é mais mulher do que eu?”, ministrada pelo escrevente, reuniu mais do que 400 mulheres.

Do ponto de vista dos conteúdos, a palestra explicou a razão profunda (social, politica, antropológica e psicológica) de alguns comportamentos gerais e locais que caracterizam as mulheres e a sociedade de hoje. Explicou comportamentos típicos daqui: como a tendência, nas várias casas, em dividir-se em homens de um lado (falando principalmente de futebol e negócios) e mulheres de outro (falando principalmente de casa e filhos mesmo quanto tem trabalhos, cargos e/ou salários superiores aos maridos). Explicou a causa de muitas contradições: do ciúme, mesmo sem amor, que chega a níveis patológicos; do porque os homens preferem se endividar para um carro mais do que investir nas luminárias de casa; explicou por que se protegem uns com os outros quando traem, mas se tornam ferozes quando a mulher faz “passar vergonha” neles. Explicou sobre o que baseiam-se os ditados “ele é garanhão, ela é puta” ou “ele que paga, ele que manda”, e como as mulheres concorrem a legitima-los. Explicou por que quase nenhuma, mesmo declarando a saúde come um valor imprescindível, suspeitando a traição do marido, ousa pedir para usar o. E o AIDS é a segunda principal causa de morte por doença no Brasil. E assim por diante, explicou o fundamento de muitos outros comportamentos.


Ofereceu uma oportunidade para entender e não simples dicas para reduzir os sintomas. Que, no mundo, é o que quem vai às palestras procura: conhecimento, não simples dicas, tipo remédios ou fármacos para reduzir os sintomas e não alterar a substância das causas.

Mas além dos conteúdos, a palestra foi em si mesma um espelho mostrando contradições e diferenças da mulher e dessa sociedade. E o que é que mostrou em particular?
Primariamente uma característica típica da transição passiva: a confusão. A confusão e falta de coerência que surgem do “querer mais e mais, mas sem incluir renuncias”; de quem aspira ao futuro sem querer se separar do passado. Grande perigo para a saúde das mulheres e da sociedade. Em vários níveis.

Por exemplo, o espelho mostrou uma organização que oferecendo uma palestra tão alta, mostrou de acreditar em uma mulher evoluída. Mas ao mesmo tempo em que não renunciou a atrai-la com o evento/festa. “Bom para todos”.

Mostrou também mulheres interessadas e capazes de questionar-se, assim como mulheres atentas e, compreensivelmente, resistentes. Mas mostrou também mulheres presentes com o único propósito de não estar ausentes. Coerentemente com os conteúdos explicados, a entrega da mulher entre as paredes da casa, exige compensação com a exibição pública do produto ganhado em troca do imolo de si mesma. Aparecer (mostrar-se), neste caso, é a catarse de renúncia da própria liberdade existencial. Mostrar-se para existir! Aparecer para valer! Sempre que se pode, sem coerência e sem vergonha: atitude confirmada por aquelas que não prestaram a menor atenção à exposição, mas não renunciaram a oportunidade de tirar uma foto com o palestrante para marcar-se e ser compartilhadas publicamente.

Resumindo, o espelho bem restituiu uma sociedade complexa e diversificada, caraterizada do "eu quero sempre mais, sem renunciar a nada" e "o que vale é aparecer, independentemente e  além da coerência, consequências e objetivos".

É bem isso! O confirma que refletiu o mesmo esquema que, de fato, vejo aplicado em outras situações brasileiras. No Facebook , por exemplo. No mundo Fb é usado para se relacionar. É um social network (rede social), de fato. Aqui é usado para aparecer. É uma vitrine. No mundo, se compartilham ideias e visões originais, propostas e objetivos (a primavera árabe é um produto de Fb). É usado como um media. Aqui fotos do dia a dia, das festas, das compras, da companhia com que se fica ou repropondo pensamentos de outros/citações de autores. É usado como um show.

Mesmo padrão que caracteriza os protestos no Brasil, onde o que atraiu foi não perder o evento e a oportunidade de ser compartilhado, cada um botando a sua plaquinha no mural-praça, independentemente da realização dos objetivos. Tanto é que a onda de “paixão” e “milícia” nos protestos secou independentemente do alcance dos propósitos e objetivos (se foram diferentes do obter a maioria possível de “curtir”).

E, enfim, na política. Vendo o espelho me pergunto: se é o que vale é o mostrar-se seja qual for objetivo ou o resultado; o aparecer/falar/reclamar, independentemente do comportamento agido ou do voto; o presente mais do que o futuro; a redução do sintoma em vez do que entender e mexer com as causas; a popularidade mais do que a coerência de resultados com os objetivos; então que tipo de politica consegue? Quer crescer? Votam em quem faz propostas além de um mandato (construir trens, por exemplo) e renunciem ao imediato, as premissas diárias, as paredes de casa coloridas, aos brinquedos ou aos salários para o fim de semana. O tudo sem renuncias não funciona e não tem futuro. “Se Deus quiser” não vai arrumar as consequências do que a gente determina com os seus comportamentos. Espelho meu, quem é mais brasileiro do que eu?


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