A educação do(s) pais

Apesar da globalização que, disponibilizando os mesmos produtos e criando as mesmas ilusões de necessidades e desejos, faz parecer tudo o mundo igual o Brasil, e sobretudo a nossa região, me parece ter características culturais tão únicas que seria um absurdo mesmo pensar em termos de diferenças.
Por cultura entendemos o sistema de valores, recursos e limites em que as pessoas se reconhecem e identificam e que, dependendo do contexto, se traduz em regras e linguagens de comportamento, implícitas e explícitas, da maneira de viver o próprio mundo. Coisas concretas que por exemplo vão de como se faz a fila a como se cumprem os acordos; de como se joga o lixo a como se usam os médicos/remédios até o relacionamento com os filhos.

Sim, porque a mais poderosa janela para olhar dentro de uma cultura, é bem a educação, seja do indivíduo (em geral o modo como as pessoas se comportam em situações diferentes) seja do sistema (infraestruturas educativas e formativas).

Bem, estando assim, parece em termos inequívocos, que a educação é o ponto mais fraco dessa unicidade cultural do pais, sobretudo nessa fase de transição e crescimento da mesma identidade brasileira.

Que se trate de um ponto crucial delicado para o desenvolvimento do país, e para a sua reeleição, é confirmado pelo fato de que a presidente Dilma fez nesse dia 6 um balanço das ações na área de educação. Segundo ela, o governo já entregou quase 1.300 creches e mais 3.100 unidades estão em construção. Já as escolas públicas em tempo integral, deveriam chegar a 60 mil ainda este ano e 300 mil professores alfabetizadores estão fazendo cursos de formação. 

Também falou sobre a reformulação do ensino médio e sobre iniciativas como o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), o Programa Universidade para Todos (ProUni), o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e o Programa Ciência sem Fronteiras, destacando que a educação é o nosso passaporte para o futuro. Enfim lembrou como por meio de recursos dos royalties do petróleo e do Fundo Social, a expectativa é que os investimentos em educação sejam ainda maiores.

Mas cuidado em confundir educação com instrução. Para crescer em educação precisa-se uma mudança qualitativa e não quantitativa. Não serve abrir mais escolas (sempre que o objetivo ultimo não seja oferecer um lugar aonde deixar os filhos estacionados para permitir aos pais de investir e/ou consumir); não serve que o aluno se torne professor no dia seguinte ter concluído o percurso de estudo: que tipo de crescimento ou de atualização no conhecimento, cultural e técnico, poderia assim se levar as novas gerações?


Lembro-me de uma vez que fui no CRAS de SMO. Fui de moto e fui imediatamente acercado por 25 crianças de todas as idades. Todas elas, e quero dizer todas, fizeram a mesma automática pergunta: “tio, quanto pagou?”. Respondi: “O que você sabe do valor do dinheiro?” E pra todas perguntei quem soubesse: quanto ganha o pai, se ele trabalha; quanto o carro se eles têm; quanto custa um litro de leite e um quilo de pão. Ninguém sabia. As crianças repetiam o que ouviram em casa: os modelos não faltam mas nenhuma explicação. A educação ao " não valor do dinheiro" e ao mapeamento do outro em função disso (as letras das canções sertanejas são uma confirmação bíblica nesse sentido – Camaro Amarelo Style) começou em casa, onde começa a primeira verdadeira responsabilidade educativa. Claro, mais escolas, mais instrução, mas não que seja a resposta a educação do(s) pais. 







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