Igrejas e Respostas

Uma minha paciente, recém comentou comigo: 
“Sabes Deny, antes do que vir conversar contigo, costumava frequentar varias igrejas, tomar passe, e coisas assim. Agora me sinto muito bem e não sinto mais a necessidade disto. Só quero continuar vir aqui, conversar contigo”. 

Então, essa afirmação, apesar que pudesse ter sido interpretada como um elogio ou uma testemunha de bom trabalho, me deixou pensativo e perplexo. 
Por que? 
Porque, em geral, toda a America do Sul, mas particularmente o Brasil e os brasileiros, tem uma maneira muito particular, típica, poderemos dizer cultural, de entender e viver a religião. 
E na minha opinião de europeu, antropólogo, psicólogo, católico e com 4 anos de seminário de teologia nas costas, maneira muito distorcida. 

Essa paciente veio me procurar por causa de uma ingovernável ansiedade. A ansiedade é uma sempre uma questão que decorre de situações interiores não resolvidas como confusões, mentiras a si mesmos, decisões não tomadas, impasse e assim por diante. Portanto é algo que se resolve com grande facilidade com um trabalho psicológico de entendimento e orientação pratica. A ansiedade é um objeto de trabalho especifico da psicologia enquanto pratica de deconstruções e reconstruções de significados que leva a melhor a adaptação entre o mundo interior e o mundo exterior por meio do entendimento, do conhecimento e da competência emocional. 

Agora, o ponto é que essa senhora, procurou respostas e soluces aos seus problemas de ansiedade, com todos os seus corolários relativos e pertinentes que incluem situações difíceis familiares, no trabalho, com as pessoas em geral, com si mesma, etc., na igreja. Ou melhor, procurou respostas nas igrejas, varias, diferentes, nos templos, nos cultos, nos passes, e assim indo. 

Vejo nisso, no encontro entre a demanda dos fieis e oferta das igrejas de soluções, dois aspectos profundos que me deixam muito perplexo. 

Primariamente vejo um atávico mal-entendimento do que é religião. A religião aqui parece ser vivida como um dispositivo social moral e moralizador. Um carimbo social e um código de comportamentos para considerar-se e ser considerados "não ruins”: uma autoridade. A religião aqui parece ser encarada e desenvolvida com o sentido de AUTORIDADE. E, enquanto autoridade, dona paternalista da verdade, da mística e das soluções: para cada um. 

Mas a religião não é isso. A religião é algo de muito especifico. Ela não é incompatível ou alternativa a psicologia, a ciência ou até mesmo as outras religiões. A religião abrange um campo muito especifico e, basicamente, tem a ver com o SAGRADO,  e com o culto do sagrado. 
Enquanto isso, portanto, iminentemente a religião tem a ver com o DIVINO e não com o HUMANO. Significa, especulativamente, que ela tem "respostas humanas” para as contingências das pessoas que podem, apenas, relacionar-se com ela em termos de fé. A elo da relação entre o divino e humano por meio da religião passa pela fé. 
A busca de respostas na religião por conta das pessoas teria que ser finalizada a encontrar e colocar Deus nas suas próprias vidas. A religião é por isso. E faz isto. Não resolve problemas de saúde, administrativos, sentimentais, etc. Estes são domínios humanos: construções humanas. Portanto se resolvem com soluções humanas e processos humanos. 

E aqui vem o segundo aspecto da minha perplexidade. 
No momento em que as igrejas, qualquer foram, aceitam de encarar essas demandas das pessoas como se fosse de competência delas, entrando na area da saúde, da economia, da política, mexendo com o bolso das pessoas, etc., eu vejo configurar-se os extremos da exploração. 
É claro que tem um beneficio imediato: mas é um beneficio baseado sobre a esperança, o conforto e o contagio. Algo que passa rápido quando se volta na vida real enquanto não disponibiliza com os adequado entendimento e os oportunos recursos. Portanto, de alguma maneira, deixa na necessidade de continuar a recorrer a esse momento de conforto e esperança para se sentir bem. Assim como se faz com um remédio. E isto se chama criar dependência. 

E no longo prazo, nenhuma dependência ajuda a estar bem. Só a libertação baseada sobre o conhecimento de si mesmo resolve as contingências praticas humanas. 
Religião e filosofias são recursos integrativos para o alcance de uma plena harmonia. 
Mas por isto, cada um tem que estar, humildemente, no seu lugar. Com respeito. 

Eu convidei a minha paciente em continuar frequentar a igreja. Para encontrar Deus no coração dela. E de deixar ansiedade e vida diária comigo, cujo sou apenas um técnico com soluções de bem-estar. 

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