Arquitetura como educação civil e responsabilidade política

A opinião e a tese que sustento nesta coluna é a seguinte: a arquitetura urbana tem, iminentemente, uma importante e fundamental função estrutural de educação civil. 
E, a partir deste entendimento, concluo o texto destacando uma grave falha política, independentemente de qual administração, em assumir uma responsabilidade no planejamento da educação civil dos seus cidadãos e, consequentemente, de um convívio respeitoso, harmônico e produtivo da cidade. E isto, se torna ainda mais grave se formos pensar ao que temos vários cursos e universidades que, continuamente, formam arquitetos de boa vontade, antes do que frustrar-se.  Mas já vou explicar. 

Acompanhem o meu raciocínio. 

A arquitetura da cidade, na sua essência, monstra e transmite duas importantíssimas realidades culturais: 

1) um manifesto ideológico de como a política intende o cidadão: de como intende a sua própria função de serviço: do que assume como dever e do que espera em troca do cidadão: 
2) um código de valores educativos a ser respeitados por meio de regras implícitas no território e nas infraestruturas. 

Isto vale por uma cidade assim como por uma casa (com a diferença que pela cidade a responsabilidade é política e dentro uma casa a responsabilidade é do dono da casa).

Por exemplo, quando vocês entram pela primeira vez na casa de um conhecido ou de um amigo, com quase certeza, não encontram um papel pendurado na parede com escritas as regras de como comportar-se naquela casa. Vem automático. Graças a arquitetura da casa e dos internos. Se na entrada tem uma prateleira cheia de sapatos com em baixo tantas pantufas, vocês automaticamente tiram os sapatos. Se entrando tem imediatamente um sala cheia de sofás e poltronas, vcs sentarão lá e o papo será conforme ao ambiente. Formal, provavelmente. Mas se deixaram entrar você direitamente pela cozinha, ficando lá, provavelmente já os assuntos serão mais pessoais e familiares. Conforme ao mudar do ambiente (rico, pobre, amplio, apertado, escuro, luminoso, etc.) mudarão não apenas os comportamentos mas também a maneira de você sentir-se e relacionar-se. 

Urbanisticamente estamos já vendo a passagem entre valores solidários e de cooperação (típica dos campos e representadas por todas casas baixas e iguais) as valores hierárquicos de poder e de classe, representados por prédios verticais, onde morar "em cima” equivale a dominar. 

Mas o meu foco é sobre a responsabilidade política da gestão do valor educativo da arquitetura dentro a cidade. O que dizer a respeito de alguns dispositivos básicos para as pessoas dentro a área urbana? 

1) Primeiro: as lixeiras. Em SMO faltam lixeiras publicas em cada canto da cidade. As vezes para jogar fora algo tenho que caminhar duas quadras, e não sempre na direção para onde tenho que ir, para encontrar uma lixeira. O que transmite esta carência de lixeiras? Que as pessoas estão autorizadas a jogar o lixo na rua? Que não é responsabilidade de ninguém manter o espaço publico limpo? Nem do município que não disponibiliza lixeiras e nem sequer do cidadão que não precisa? Mas então qual conceito de sentido civil está sendo passado? O que é esse conceito de "publico"? Temos que entender o espaço publico como um espaço de todos ou um espaço de ninguém? Se ninguém tem responsabilidade sobre algo de comum significa que não é nem comum e nem sequer um espaço: é um “não espaço franco”onde cada um pode fazer o que quiser. Até vandalizar ou roubar (como acontece com o dinheiro publico, nos protestos ou se faltar policia, repressão ou eletricidade). 

2) Faltam relógios públicos. Faltam nas estradas e nas instituições relógios públicos visíveis pra todos. Um relógio publico educa ao fato que o tempo não é algo que só pertence ao indivíduo mas algo que se interliga ao tempo dos outros e da coletividade. De um lado, ter um relógio publico, testemunha a "ajuda" do “governo” para que cada um não se perda no tempo e faça algo da sua vida; de outro que respeitar o tempo, ou seja ser pontuais, chegar no horário aos compromissos, é algo civil que melhora os processos produtivos e educa ao valor da organização. 
O tempo coletivo, com responsabilidade publica e civil, é algo diferente do tempo individual. Tem um significado de ligação entre uns e os outros, entre o passado e futuro: porque é de todos. Por isto um relógio publico não pode ser sobstotuido do uso individual do relógio privado, seja que seja de pulso ou no celular. 


Lixeiras e relógios públicos educam ao sentido que tem sempre direitos e deveres, seja do governo da cidade seja dos cidadãos, que ao final, são a mesma coisa. Sentido civil. 

Comentários

  1. Deny,

    Esses dias encontrei um texto muito interessante do Bruno Garschagen, intitulado "Somos resposáveis pela beleza que herdamos". Me chamou a atenção para uma espécie de senso comum que temos é que as construções precisam ser úteis, antes de bonitas. Segundo o autor, é um conceito realtivamente novo, visto que antes do século XX as contruções em geral, principalmente os prédios públicos, seguiam a arquitetura clássica.
    O autor defende que a arquitetura clássica nos deixa felizes. Como sei que você nasceu na Itália, onde as construções são muito diferentes que no Brasil (embora até mesmo dentro do Brasil, os estilos de contruções variam bastante), poderia dar uma opinião sobre isso.
    Abraço,

    Arthur

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