Filhos ansiosos (por)que não podem e não sabem errar
Filhos, crianças e/ou pré e adolescentes, ansiosos? Que
parecem dar extrema importância a aparência e a imagem social? Que ficam horas
infernizando os pais a respeito de que roupa colocar para sair com o/a
namoradinho/a? Que se escondem dos colegas e amiguinhos se encontrados por
acaso em lugares públicos quando eles mesmos não estiverem perfeitamente
arrumados? Que surtam em crises de pânico, de sono, de choro, de raiva ou de
tristeza quando tem que enfrentar uma prova, encarar um desafio, fazer algo
novo, cujo eventual êxito negativo possa colocar em risco e em dúvida a imagem
de perfeição deles que precisam manter aos olhos dos outros e mentir para si
mesmos?
Vamos começar de uma consideração geral: a construção
internalizada de parâmetros que indicam o que é que bom (e o que precisa
alcançar para serem à altura, perfeitos ou melhores) e/ou o que é que é ruim
(inaceitável: pena o fracasso, o julgamento ou a rejeição) é um processo
natural e inevitável e serve para que a pessoa/filho evolua e passe de uma
dimensão simples, magica, lúdica, auto referida, intrafamiliar a uma dimensão
complexa, social, livre, resiliente.
O nível de padronização dos parâmetros, ou seja o fato que
se escolhem como valores de referência para serem bons ou ruins as mesmas
coisas: a mesma ideia de beleza (mesmo cabelo, roupa, formas, etc.), a mesma
ideia de sucesso (o que mede o sucesso?), a mesma ideia de fracasso (quem julga
o seu fracasso?), a mesma ideia do que é que é bom e o que é que ruim, do que
vale e do que não, do que é permitido e do que é que não, etc. depende de
mecanismos sociais: mais a sociedade é fechada e organizada por grupos mais os
parâmetros e os valores de referência serão homologados e padronizados (ou seja
iguais entre si) enquanto terão que dar conta a sociedade; mais a sociedade é
aberta e individualizada mais os parâmetros e os valores serão construídos
individualmente e livremente enquanto terão que dar conta a pessoa, a si mesma.
Agora, vindo ao ponto: tem que sustenta que toda esta
influencia a aparência, a padronização e a consequente ansiedade depende dos
grupos que os filhos frequentam que propõem e exaltam estes modelos de
perfeição, de valor e de confronto e comparação.
Sem dúvidas os grupos são importantíssimos e fundamentais
nestes processos de influência e condicionamento, enquanto os grupos constituem,
no processo de individuação e separação que todos os filhos têm que enfrentar
para conquistar uma identidade pessoal separando-se e diferenciando-se dos
pais, o campo em que se iludem de trocar a dependência que tem dos pais pela
ilusão de independência por meio da dependência dos grupos.
Porem esta ansiedade e esta padronização a dar valor a
aparência e a perfeição não nasce e não vem dos grupos: não se produz nos
grupos. Nos grupos apenas se reproduz.
Vem da família. Que sem se dar conta institucionaliza a
ansiedade da perfeição. Como? De inúmeras maneiras que nem se percebem, porque
justamente são culturais. Um exemplo? Em cada festa de criança (e para as
crianças) em que vem convidados e estão presentes adultos, que se relacionam
entre eles, até bebendo cerveja, se está transmitindo aos filhos, desde
pequenos, que eles são o meio através do qual os pais podem mostrar-se,
relacionar-se, serem orgulhosos ou não.
Os filhos se tornam assim uma amostra
do valor dos pais. Uma cobrança não irrisória para a psique dos filhos, que
simplesmente conotam tudo de maneira afetiva, porque buscam e precisam o eterno
amor dos pais. Portanto destes momentos pra frente (festinhas assim como todos
os momentos em que privado, afetivo e público se misturam, como o estudo por
exemplo) os filhos aprenderão, internalizarão e reproduzirão, que ser não
apenas a altura mas até mesmo perfeito, é o mínimo para ser amados dos pais.
Proibido errar portanto, pena a decepção que tira o afeito e o amor.
E se não
gera ansiedade isso o que a gera?
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