Como pais e escola podem estragar os filhos e o futuro



Jeitinho brasileiro”: o fato mesmo que exista esta locução lingüística e que venha associada a um “povo” especifico (o brasileiro) significa que essa "atitude" é tão enraizada, espalhada, marcante e especifica que vem reconhecida, de fato, como um traço distintivo cultural de um povo. Mas o que é, na sua essência, o jeitinho brasileiro? Em palavra simples, é uma maneira criativa e “pessoal” (no sentido que baseia-se e alavanca-se sobre todo aquele conjunto de implicações que desencadeiam-se e desenvolve-se dentro uma relação pessoal) para alcançar um objetivo/solução independentemente (ou além) das regras/leis implícitas e explicitas. 

Os brasileiros, portanto, tem jeitinho. Algo que por exemplo, os rígidos alemães ou os pragmáticos ingleses não tem; jeitinho seja no sentido positivo que negativo. E isto é um fato.
Mas de onde origina este traço cultural, pelo menos de um ponto de vista educativo e psicológico, tão distintivo?
 
Seja como psicólogo seja como pessoa criada em outra cultura me chama sempre muita atenção, da mesma forma que me chama atenção um carro que viaja contra mão ou que não
para ao sinal vermelho ou alguém que joga o lixo na rua, quando escuto pais dizer e, em seqüência, coerentemente agir o:

“meu filho quer/meu filho não quer”
Ou seja pais que se comportam e educam conforme ao princípio, reconhecido superior, que o que que conta, o que que é bom e o que que é justo, é a vontade do filho; pais, provavelmente, convencidos e criados com o mito (o preconceito ou a ilusão) que para serem bons pais e criar filhos felizes ou sei lá o que (Educados? Respeitosos? Fortes? Seguros? Gratos? Autônomos? Capazes?) “seja coisa boa e justa fazer a vontade” dos filhos, fugindo e evitando qualquer desconforto. 

Muitas vezes, quando crianças ou adolescentes que atendo, trazidas pelos pais, saem do meu consultório, escuto a imediata pergunta destes: “e aí filho, gostou?”. Espera aí. Gostar? Da terapia? Mas a terapia é algo útil ou que faz bem. Não um show ou um divertimento. Obvio que pode ser apenas uma forma de linguagem. 
Porem uma forma de linguagem que destaca e reforça o valor supremo do "prazer", mais do que do dever ou do justo. E as palavras que usamos obrigam o cérebro a torná-las idéias e valores. Esta é a essência da educação; e da terapia. 

O ponto é que a vida, que é feita de relações, de trabalhos, de dificuldades e superações, não é apenas prazer: é primariamente respeito. Respeito dos outros, de cada um, da sociedade civil, das regras e das leis. Se todos estes valores vem depois do prazer e se desde crianças ás pessoas vem permitido antepor o prazer (querer/ não querer) ao que é certo ou próprio, que pessoas criarão-se ? Pessoas que não saberão respeitar os outros a não ser que estas dessem prazer (ou interesse)? Pessoas que não saberão respeitar um contrato de trabalho, um dever ou um acordo se tiverem sentidos de desconforto? Pessoas que desenvolverão transtornos ou doenças perante as frustrações inevitáveis da vida que os pais/outros não podem resolver?

O ponto é que saber viver e saber viver em sociedade, respeitando si mesmos e os outros, é um valor que vai alem do prazer e que se internaliza educando-se com os valores do respeito das regras, das leis, dos limites e até mesmo das frustrações. Algo que não pode ser apagado, pulado, negado ou anulado por uma questão de prazer/querer ou não prazer/não querer. O respeito dos outros e a capacidade de comprometimento e superação é algo que vai alem do prazer. E que começa a ser construído a partir dos limites que os pais dão e das regras que as escolas impõem. Ao que serve acreditar tanto em Deus, qualquer Deus, se o principio do prazer (fortalecido pelos pais já desde crianças) vale mais do que o do dever e do respeito. 

É importante aceitar de incomodar-se para fazer e pretender o certo; lidar com o "não". Para aprender a viver no real. E não na ilusão de uma eterna família. 

Bom, a partir do 2017 é oficial uma medida do Conselho Estadual da Educação de Santa Catarina que delibera que as escolas publicas e particulares não poderão mais reprovar alunos. Independentemente do rendimento e do comportamento. E eu me pergunto. Que gerações futuras se criarão assim? Muito provavelmente passivos, incivis e doentes.

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