Gostar não é Amar



Há 20 anos que faço terapia de casal e de família com metodologia sistêmica. Me formei na Suíça. Atendi lá, obviamente, na Suíça, na França e na Itália. E agora aqui em SC. A terapia de casal e de família funciona sempre. Em máximo 3 ou 4 sessões, de uma maneira ou outra, o casal se resolve e a família toma um rumo.

Agora, estou citando essa parte do meu Curriculum não para me fazer propaganda mas para destacar como, baseando-me sobre essa experiência pratica, seja muito importante dar-se conta de como a construção do dispositivo casal não é apenas algo que tenha a ver exclusivamente com sentimentos recíprocos ou vibrações íntimas. 

Sem aprofundar a sua concreta, essencial, razão estrutural, que é a razão fundacional da ordem social que regulamenta as culturas capitalistas, ou seja a sua conotação técnico-jurídica e a sua função de regulamentação e preservação do patrimônio, o casal (a sua ideia e a sua forma) é também um dispositivo profundamente cultural; que muda de Pais em Pais e de cultura em cultura.
A seguir vou elencar três conotações que “definem”, estruturalmente ou frequentemente, muitos casais dessa região e do Brasil, seja de um ponto de vista jurídico que antropológico que psicológico: algo diferente em outras realidades e Países. 

1. O casamento se configura como casamento, com todas as suas obrigações e regulamentações de direitos e deveres, inclusive patrimoniais, somente depois que as pessoas declarem publicamente de escolher e assumir de constituir uma nova célula social que se chama, justamente, família: ou seja o casamento. Essa declaração constitutiva de compromisso se chama casamento e vale apenas depois ter assinado o contrato de casamento perante a sociedade (instituição civil).  
Isto significa que sem ter assumido publicamente essa passagem de identidade social (de solteiros a família) por meio de uma função pública (assinatura), duas pessoas, por exemplo, podem deixar a escova de dentes em casa de alguém, dirigir o carro do outro como fosse o seu próprio, morar juntos uma vida, dividir custos e até mesmo ter filhos que, no caso de termino da relação, ninguém tem direito a herança, pensão, etc. etc. 
E também vale no caso que uns dos dois caísse no hospital doente e precisasse de umas decisões: o partner não pode decidir. Não é parente. É alguém apenas ligado sentimentalmente sem porem que esse sentimento tenha se tornado formalizado em casamento (um tipo de dispositivo que, de um ponto de vista técnico e formal, não regulamenta o sentimento mas o compromisso com a sociedade em garantir continuidade, de capital e de sobrenome). Eu, pessoalmente, concordo que o casamento tenha que ser uma escolha e não uma inercia. É mais certo escolher a mudança do que sofre-la.

2. Outro ponto é o seguinte: muitas vezes pergunto para os meus pacientes que buscam resolução para o casamento. “Tu amas ele/a?”. A resposta geralmente e sim. “Por que?”, então pergunto. Bom, aqui muitos parecem surpresos. Eu esperaria uma “fotografia” tão intima e profunda do amado/a, um entendimento tão exclusivo e pessoal do outro/a, o que somente os olhos cheios de amor conseguem enxergar, que eu conseguiria chegar a conhecer o outro/a sem nem sequer estar este lá presente.  Mas muitas vezes a resposta que segue é a seguinte: “eu gosto dele/a; sim porque gostamos assistir filmes de domingo, dançar juntos; fazer sexo; temos filhos, sair com amigos, etc.”.
Bom, essa reposta não diz nada sobre o partner. Descreve uma rotina padrão. Este não é amar. É gostar. Talvez ama-se a situação de cômodo a qual está-se acostumado enquanto perdurante há tempo. Mas todas essas “atividades” não dependem da unicidade da outra pessoa. Ao final poderiam serem proporcionadas de qualquer pessoa perdurasse no tempo construindo essa rotina.

3. Outro ponto diferente a respeito do gostar e do amar é a disponibilidade a dar relevância aos sentimentos e a identidade do outro em relação a sua própria. Geralmente quando ama-se, o que importa mais é que a pessoa amada seja feliz, mesmo que isto comporte fazer algumas renuncias ou passos atrás. Até o deixar-se pode ser um ato de amor quando se der conta que a amada precisa de um projeto de vida diferente para si mesma a respeito daquela estrutura de casal. Obvio que o objetivo e o sentimento de sentir-se amada como prioridade (e de outro lado de amar como prioridade) não pode chagar até o ponto de ser uado como chantagem afetiva ou pretensa. Se alguém chegar a dizer, por exemplo: “faça ou seja isso para mim se não tu não me amas”, é obvio que é esta é a primeira a não amar. E nem sequer sabe talvez sentir-se amada, confundido sucesso e conquista ou necessidade com amor.

4. Mais um ponto culturalmente diferente na construção de um dispositivo de casal é ideia, muito comum por aqui, que um casal vai ter mais probabilidade de dar certo quando os dois componentes foram parecidos. Muitas vezes encontro esse raciocínio por meio da defensa do seu raciociono oposto, ou seja: “não dá certo. Somos muito diferentes”.

Bom, obviamente, este componente não é necessário para o sucesso ou o fracasso do relacionamento. Depende não apenas da estrutura de personalidade dos dois mas também de uma determinada e especifica visão da vida e seu projeto de felicidade.
Por exemplo, a ideia de que duas pessoas parecidas dariam mais certo baseia-se sobre a ideia-visão que encontrando e lidando com o conhecido sejam minores os riscos do desconhecido: basicamente é um princípio de administração baseado sobre o medo e a redução dos imprevistos e das diferenças, que praticamente se traduzem em possíveis distancias e conflitos.

De outro lado a diferença é algo que acrescenta. Um estímulo. Algo que motiva e obriga a ir além de si mesmos para um bem superior. O encontro com o amor e o desenvolvimento da capacidade de amar. É uma visão baseada sobre a vontade de melhorar e a coragem. Algo que acredito seja constitutivo do Amor, que não sempre, justamente, significa conforto.
Tudo depende do que se quer da vida e de que função tem que ter o amor nesse sentido.

Gostar ou amar?
O casal é apenas uma consequência disso. 


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