O duro golpe do Brexit ao Novus Ordo Seclorum


O referendum democrático que decidiu a saída da Britânia da União Europeia (Brexit) é um acontecimento histórico revolucionário, subversivo e perturbador de tão tamanha dramática importância que não consigo imaginar os efeitos ideológicos e práticos, em meio-longo prazo, que irão seguir. De um determinado ponto de vista, é um duríssimo golpe (não sei se pode já chamar de “falimento”) a um projecto de uma ordem ideológica-política-social-económica perseguido estrategicamente com grande sabedoria, visão, calma e força desde a idade das travas. Esse projeto, em reação ao caos das guerras e dos intrigas de vaidades, visa a constituição de garantias de estabilidade e paz por meio do controle de princípios unificadores e da constituição de um estado de direito superior (ou seja, do direito de ter direitos para cada cidadão) além e em contraposição á princípios de classificações hierárquicas ontológicas moralistas típicas das ordens absolutas e teocraticas que tirava das pessoas a possibilidade garantida de autodeterminação. 

Seguem poucas palavras para algo de muito complexo. 

Sobre o dólar, tem escrito “Novus Ordo Seclorum - Annuit Coeptis”. Significa “Nova Ordem mundial - Favoreça as empresas”. 

O que é essa nova ordem? 

Começamos olhando a historia. 

A fragmentação dos povos e  dos estados, guiados de poderes absolutos de um lado (monarcas, imperadores, famílias influentes), e de teocracias de outro (figuras éclesiais e diferenciada regulamentação do sistema bancário e de leis de mercado), constituiu e constitui a condição para: 

A) uma continua instabilidade micro e macro, local e mundial, politico e económica (guerras, mercados paralelos, etc.); 
B) um terreno de fertilização para vaidades, ambições individuais e delírios de poder (cada um faz a sua regulamentação); 
C)  uma visão ontológica do ser humano como ser não livre: súdito de um lado e fiel/adepto de outro; 
D) Etc…

Cada ordem é uma maquina/sistema que para funcionar precisa de alguém que trabalhe/produza e de alguém que controle a força trabalho. 
Por que trabalhar? 
Nós estados absolutos se trabalha por que a visão ontológica do ser humano enquanto súdito tira, na mesma base, a liberdade de decidir para si mesmos e obriga a “homem-propriedade” a trabalhar por condição ontológica inferior a respeito e para o rei/monarca/imperador/opressor (muitas vezes “escolhido direitamente por Deus”). 
O súdito oprimido trabalha por reverencia e por natureza ontológica de inferioridade a respeito de “homens melhores” que os dominam: desigualdade ontológica. 
De outro lado, na ordem de teocracia, o homem trabalha para ganhar o paraíso. Por que Deus, por meio da igreja. manda o fiel a cumprir uma obra de submissão a Deus (alavanca é o medo da morte e a premissa de salvação), etc. Tudo gerenciado das varias igrejas. Aqui estamos perante uma desigualdade moral entre as pessoas. 

Claro que nenhuma ordem é imune das mudanças do tempo e dos valores: do “espirito do tempo” (zeitgeist). Ao aumentar da liberdade, por exemplo, diminuiu a força trabalho. Nessas fases cresceu, para compensar isso, o sistema da escravidão. Mas enfim. 
O ponto é que nenhuma ordem pode ficar sem um controle
Senão seria o caos. E justamente o fim mais alto é ter uma ordem do caos ("ordo ab chao").
Absolutismo e Teocracia são duas ordens “de cima pra baixo” erguidos sobre princípios de desigualdade ontológica e moral. 

Então, em forte alternativa a ordem da monarquia e a ordem teocracia, com um longo e sapiente processo histórico, vem a nova ordem da economia. Uma maquina complexa que tem por trás valores ideológicos-ontológicos de libertação do monarca e da igreja e que para funcionar precisa de algumas condições e princípios de valores compartilhados e difundidos; um desses é a unificação. 

Segua-me: 
o verdadeiro imediato marco e legado da REVOLUÇÃO FRANCÊS não foi o famoso ditado “liberté, egalité, fraternité” (valores sobre os quais ainda estamos trabalhando enquanto seres humanos medrosos e egoístas) mas foi a criação da MOEDA DE ESTADO
O meio de unificação para garantir estabilidade e continuidade super-partes entre os povos (desvinculado teoricamente do ego das pessoas) é a MOEDA. 
A moeda precisa do MERCADO
Portanto para fortalecer o projeto é preciso um MERCADO UNIFICADO
Mais o mercado é único, mais a ordem garante estabilidade e liberdade. 
Em tese teorica. 
Para criar um mercado único, é obvio que precisa reduzir a fragmentação, e passar por UNIFICAÇÕES POLÍTICAS: políticas e democráticas. 
Esse processo dura há séculos e, conforme a visão a espiral de Hegel de tese, antítese e síntese, as vezes, sendo que, maquiavelicamente, “o fim justifica os meios”, foram necessários determinar estrategicamente eventos (tese) trágicos, superiores, perturbadores, etc. para que a reação (antítese, que sem aqueles fatos não teria tido força, razão, motivação e vontade suficiente para produzir-se) levasse ao alcance do projeto por sequencia de sínteses (que uma vez alcançadas constituiriam novas teses). 

A UE, também, desde o fim da segunda guerra do mundo, é “apenas” uma etapa desse projeto, concretizando-se como organização jurídica e montearia com teórica liberdade e dignidade ontológica. 
A UE é o resultado de uma convergência de forças incríveis, políticas, intelectuais, filosóficas, ocultas, até mesmo religiosas (do YMCA ao IOR)- Uma construção pedra depois pedra, gota depois gota, de uma visão de uma ordem fundada sobre a possibilidade de autodeterminação por meio de princípios de unificação, convergência, tolerância, multi-culturalidade e identidade comum que teria que ver na moeda e no mercado comum e livre o seu meio organizador fundacional principal. 

Tudo estava indo até o Brexit

O Brexit, dramaticamente, hoje sentencia pelo menos 4 pontos
1) Não tem liberdade dos povos se a propriedade da moeda é particular e oligárquica; A cissão entre mercado e política (talvez ideada como principio de controle mais do que de poder) se revelou determinante pela falha desse projecto. A atra falha critica é a questão migratória que manda em colapso e em contrasto o Estado de Direito europeia com as jurisprudentes nacionais, abrindo o vaso de pandora a sentimentos nacionalistas de fragmentação e autarquia. 
2) Não existe e não se formou (e talvez não se pode formar dentro uma condição de paz), de um ponto de vista antropológico, uma identidade comum de povo européio;
3) A Ue é um projeto politico falido. O povo não sente benefícios. Fica em pé como projecto monetário, valutario e financeiro; 
4) Apesar de tudo isso, a democracia existe e é forte; uma grande e forte prova testemunhal de um povo civicamente, politicamente e ideologicamente muito educado como o Inglês. (Tanto é que por isso também assusta: Mario Monti, leia-se poderes bancários, por exemplo, falou que “Cameron abusou da democracia”. Nessa afirmação dá para verem todas as idiossincrasias e as delicadezas dessa fase de perturbação de poderes e redefinição de equilibrios). 

Enfim, e o futuro? Sinceramente, depois das previsíveis especulações, não sei; daqui pra frente, provavelmente, entraremos em um novo ano 1000. 




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