1+1=3; Levar ao pessoal/ Colegas, psicologos, crianças e ... (integral)


Levar ao pessoal: quanto atrapalha? E, acima de tudo, quem atrapalha? 

Para refletir um pouco sobre esta atitude, vou começar pegando o gancho de algo que, de alguma maneira, me envolveu e acontece comigo. 

A senhora Maria me “avisou”: Deny, tem muita gente que te odeia, especialmente os psicólogos. E especialmente a minha amiga, que cursa o terceiro ano de psicologia. Ela falou que o ano que vem, quando for formada, vai tratar todos os seus pacientes melhor do que você”. “Aé? Até que ficaria feliz para os meus pacientes. Que merecem mesmo. Mas por que “os psicólogos” me odeiam?”. Perguntei. “Por que você fala muito mal deles”. Finalizou. 

Bom, essa conversa aconteceu realmente. Portanto vamos refletir um pouco, tranquilamente. 

Mas antes do que mais nada, para introduzir ao raciocino, algumas evidentes precisões: 
é obvio que nunca falei mal dos psicólogos. Quem me lê, escuta na radio, conhece pessoalmente, etc., bem sabe que profiro apenas palavras e conceitos que posso sempre defender e sustentar, até, e as vezes além, os limites da chatice. E isto não porque considero o que falo e penso melhor ou mais verdade do que os outros falam e pensam, mas simplesmente porque o meu estilo é partir de “coisas, dados, fatos, etc.” “objetivos” sobre os quais antes me documento e depois elaboro raciocínios que depois comunico: isto porque considero o comunicar diretamente, expondo-se, uma forma de respeito para o próximo, para cada um e para todos. E, obviamente, interpreto e vivo com grande respeito e satisfação quando alguém outro tem a mesma atitude comigo. (Parafraseando Volteire) Pode até mesmo me dizer coisas sobre as quais não concordo, que não gosto em geral e/ou de mim. Mas, isso, pra mim, vale ainda mais quando a atitude é construtiva e não destrutiva


Bom, conforme a quanto dito, é obvio que não posso ter falado mal “dos psicólogos”. 
Para falar mal dos psicólogos teria que conhecer “todos” os psicólogos que existem um a um e teria que ter a mesma opinião sobre cada um deles. E aos duas circunstancias são obviamente impossíveis. 
De fato, tem tantos colegas que conheço, que admiro e respeito. Pessoas das quais aprendo, que convido no meu programa, para as quais encaminho pacientes, que leio e escuto o que divulgam e que acompanho nos trabalhos deles quando os propõem. Pessoas e profissionais com preparos, estilos, atitudes pessoais e características diferentes das minhas; mas justamente que, tendo competência e ética, bem por essas diferenças, podem serem mais indicados do que eu por algumas situações e casos, porque a psico-terapia, acima de tudo, é uma relação. 

O ato terapêutico, de fato e acima de tudo, é um ato de encontro. Então quem define o profissional é o paciente. O profissional-psicoterapeuta é um prestador de serviço que tem que ter a capacidade, o estilo pessoal e a sorte de proporcionar ao paciente o que precisa para o bem-estar que o paciente procura e/ou que é possível ou indicado para funcionar, em forma de material cognitivo, afectivo e emocional, para que possam, usando esse material, trabalhar juntos. 
Nenhum psicólogo-psicoterapeuta pode proporcionar isto de maneira igual e/ou pre-embalada par todos porque, obviamente, cada um é diferente e, portanto, cada um precisará “trabalhos e linguagens” diferentes. 
E quem “manda” é o paciente, porque ele que está “contratando” o profissional e buscando algo do que precisa. 

Portanto, resumindo, o ato terapêutico é um momento de encontro, para um trabalho em conjunto, onde ao centro tem o paciente (é isso também ao que me refiro quando na propaganda do meu consultório na radio 103 fm destaco: “na terapia o paciente é o mestre”). 
Portanto para cada paciente tem que existir um “psicólogo saia justa” pra ele. As diferenças de estilos e preparos entre os psicólogos são tudo de bom. O importante são as competências: 

Mas é obvio, também tem colegas que acho que teriam que mudar trabalho. Pouco preparados e com mau-atitudes. De fato são sempre as pessoas que fazem a diferença e não os títulos. 
Essas são apenas opiniões. Como as de todos dentro das suas categorias profissionais. Não é assim? É tão normal que chega a ser banal. E, ao final, também, tem um monte de colegas que, simplesmente, não conheço. 
Portanto nunca falei “dos psicólogos”. E, a maior razão, nunca mal. 

Sempre falei do “sistema psicologia”. Que no Brasil acho fraco enquanto errado.
E por que? 

Porque é o único pais do mundo onde um psicólogo pode sair da universidade e trabalhar na saúde, ou seja fazer clinica, ou seja atender pacientes. Os outros paise não reconhecem essa habilitação aos psicólogos apenas por ter saído da universidade. 

4 ou 5 anos de estudo não são nem sequer suficientes para entender um pouco de psicologia (ao máximo se pode chegar a ser informados). Imaginem ser preparados a fazer psico-terapia. Não é possível. 

Para se tornar psicólogo e depois psico-terapeuta precisam, fora do Brasil, percursos diferentes. São necessários 6 anos para tornar-se psicólogos (que apenas como psicólogos, repito, não podem atender/tratar pacientes) mais 4 (mínimo) para preparar-se e se tornar psico-terapeutas e serem habilitados a atender pacientes. Apenas psicólogos e médicos podem enscriver-se as escolas para se tornarem psico-terapeutas. 

Portanto, tanto por entendermos as diferenças de sistema, qualquer psicólogo formado no exterior pode atender no Brasil mas nenhum psicólogo formado no Brasil pode atender fora, nos outros países. Não teria a permissão e a habilitação por causa curriculares. 
Esta do currículo (que ao final é uma questão de requisitos de preparação formal e de sistema) é uma grande falha de sistema. Que primariamente prejudica a mesma consideração do valor da psicologia no âmbito da saúde, em geral, e, também, no processo terapêutico integrado (ou seja a psicologia não vem muito respeitada e reconhecida nem da população e nem sequer dos outros profissionais da saúde; justamente porque os entendimentos do que vale ou não vale para a saúde se criam em um conjunto de praticas e recursos recíprocos). 
Essa da “profissionalização da psico-terapia” foi uma batalha muito assumida do nosso CRP até poucos anos atrás, antes que a crise económica aumentasse os flertes entre sistema formativo e sistema politico, determinando consequentes pressões. 

Agora, qual é o ponto? 
Tudo isso que sustento e argumento é algo objetivo. 
Não é uma opinião. Não tem nada de pessoal. Nem fala de mim e nem fala dos outros. 
Prestando atenção a leitura: o que essas palavras não dizem e nunca disseram? 

Não dizem que eu considero “os psicólogos” ruins. 
Tem muitos colegas, repito, que conheço que por experiência e atitudes, ética e preparos, admiro muito. Outros que não admiro. E muitos mais que não conheço. O ponto é que não falei de psicólogos. 
O que também não disse é que eu me considero melhor de alguém. 
20 anos de profissão e um monte de papeis pendurados nas paredes só me deixam sentir cada dia mais ignorante e insuficiente em tudo o que faço. Mas talvez quando estava ao terceiro ano de universidade pensava de mim de ser já um super psicólogo. Talvez, até mesmo, tinha decorado muitos nomes de alguns capítulos de um qualquer livro. Não lembro. Passou já demais tempo e muita vida e vidas. Que pena ter perdido essas certezas. 

Geralmente também argumento que o sistema formativo para psicólogos, assim como é proposto, é um prejuízo para a categoria dos psicólogos. 
O que nunca disse é que os professores não são bons ou capazes ou que a responsabilidade das universidades é uma responsabilidade política e/ou deontológica. Ao final, as universidades particulares, são empresas que fazem o trabalho delas. E as publicas sofrem de mal politico. 
O ponto é que a origem do prejuízo do sistema formativo está no fato que a cultura política desse pais é uma cultura de mercado e não de serviço. 
Portanto as regras do jogo visam a conquistar o mercado “no agora”, e não a “fazer”/planejar uma cultura de serviço. 

Mas como tudo isso que estou relatando nós leva á reflexão deste artigo? 

É surpreendente (ou não) como muitas pessoas entendem o que querem entender, independentemente da realidade objetiva; leem e veem o que querem ver e ler independentemente do que vem escrito ou mostrado; atribuem significados ao que acontece, para si mesmos e para os outros, independentemente dos retornos objetivos e emocionais com que se reparam
(um típico exemplo dessa distancia incoerente entre realidade e interpretação é: “o cara é um cara bom; só que quando bebe se torna agressivo”). 

Na minha opinião, essa dificuldades em ler e interpretar a realidade de maneira mais conforme a realidade tem a ver só em mínima parte com factores cognitivos (ou seja em mínima parte as pessoas não entendem porque não tem recursos cognitivos suficientes para chegar a entender mesmo); a maioria das vezes, na minha opinião, a dificuldade a entender, assim como em ficar atentes, concentrados, focados e persistentes, tem a ver com factores emocionais. 

Como os meus colgas sabem, o desenvolvimento cognitivo vem teorizado de um ponto de vista evolutivo por Piaget conforme a uma sequencia qualitativa por etapas  organizadas conformes dois princípios: assimilação e acomodação. 

A assimilação é quando a realidade externa se encaixa dentro as estruturas cognitivas já em dotação, assim como estão formadas e funcionastes: é um processo de fora pra dentro. 

A acomodação acontece quando as estruturas cognitivas não são mais aptas, de um ponto de vista funcional, a dar significado a realidade externa, objetiva, que aumentou de complexidade até não conseguir mais encaixar-se dentro as estruturas da criança de maneira funcional. Portanto a criança tem necessariamente que fazer um esforço e modificar as próprias estruturas internas (ou seja mudar, crescer, evoluir) para continuar a funcionar no mundo objetivo: é um processo de dentro pra fora. 

Típico exemplo é o que acontece convosco e dentro o nosso cérebro com a nossa língua (assimilação) e com uma estrangeira (acomodação). 

A evolução é uma sequencia de fases alternadas de processos de assimilação e acomodação. 
Até um ponto assimilamos. Mas quando temos assimilado o suficiente para lidar com algo de mais complexo, a complexidade do mundo nós empurra necessariamente a fazer o esforço de mudar. Se chama evoluir. Crescer. 
Sem essa alternança a criança não evolui. 

E aqui chegamos ao ponto: basicamente o levar ao pessoal é, primariamente, um permanecer a um estado de funcionamento por exclusiva assimilação. 
Não importa o que acontece ou vem apresentado fora. 
Se destorce a realidade, até que ela se encaixe em que se tem a capacidade de ver, entender, gestir. Tanto é que é típico da criança considerar-se ao centro do mundo: processo de fora pra dentro. Tudo o que acontece no mundo tem referencia com ela. É para ela. A criança está ao centro do mundo e das atenções.
Diferente do adulto que tem mais disponibilidade a reconhecer a própria posição relativa com si mesmo e com os outros, a questionar-se criticamente e aceitar tudo de maneira mais relativa e construtiva, inclusive os próprios pontos que merecem serem superados auto-modificando-se por acomodação (ou seja, vivendo de maneira positiva e construtiva a possibilidade de superação dos próprios limites e falhas por meio de destaques objetivos e relacionais dos outros). 

Quem leva ao pessoal, basicamente, funciona, assim como uma criança não evolvida, exclusivamente por assimilação mas com a mais conotação emocional do ressentimento misto ofensa, que é uma derivação do ego (adulto), produto da vaidade por comparação e competição social. Algo muito próximo as frustrações que as crianças vivem quando começam a dar-se conta que o mundo não sempre está lá, pronto para agrada-las. 

Pessoalmente … todas as vezes que vejo alguém processar o que acontece levando ao pessoal, penso a uma criança. E sinto muito por essa pessoa. Não tem que ser fácil não, viver estruturados e com preparos de criança em um mundo tão complexo, rápido e duro. 

Um psicólogo, para quem leva a pessoal, seria muito útil sim. 
Agora se é o psicólogo que leva a pessoal, não sei o que dizer …. 

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