Quem se salva salvando o Lula?

Estava conversando com um amigo. 
Ele reclamava veemente contra um supermercado de SMO: 
“Puxa, comprei um litro de leite; quando o abri estava estragado. Provavelmente foi conservado de maneira duvidosa: congelado e reposto nas prateleiras. O cara sempre vende ao limite. Sempre perto da data de vencimento. E a oferta é pouca e péssima. Faz quatros aniversario por ano. Só para cobrar mais os fornecedores que de volta cobram os consumidores. Tudo para maximizar os lucros”. 
“Puxa”, repliquei: “por que não vai lá protestar e mudar de supermercado? Esperando que não sejam todos iguais, obviamente”. 
“Pois é, mas não dá”, explicou o amigo: “o cara é cliente na loja do meu pai e no final do ano convida toda a família no churrasco dele”. 

Pois é, a minha coluna, em relanço ao titulo, poderia terminar aqui. Já falei tudo. 

É que do meu ponto de vista, que não é partidário, não é hipócrita e nem sequer moralista, o “Lula-ministro”, a tentativa de salva-lo, não me surpreende, assim como não me surpreendeu o decreto Biondi quando foi aprovado no meio da operação “mãos limpas”, para aumentar a impunidade dos parlamentares investigados. Tudo já aconteceu nos na Italia nos anos ’90; Italia, pais tanto corrupto quanto o Brasil porque, assim como o Brasil, foi unificado no papel com engano, sem revolução, sem nenhum sentimento de identidade nacional, de irmandade, igualdade e justiça mas apenas para construir uma ordem de mercado baseada sobre a propriedade da moeda. Moeda: o deus das nações laicas. O valor ecuménico de quem pensa apenas em si mesmo e que não se reconhece igual aos outros. De quem aceita o leite estragado em troca de um cliente e de um churrasco. 

Aqui tem o link da historia da “operação Mani Palite”;
e aqui o link ao artigo que o juiz Moro escreveu no 2004 sobre essa operação como fonte de inspiração para o seu trabalho. é tudo igual. Se chama democracia e é o espelho de um povo. 

Sim porque Lula não é o “grande irmão” descrito do George Orwell, e nem sequer o “grande arquiteto” da corrupção do Brasil. Lula é apenas um corrupto entre corruptos e corruptores que agora está lá, como vertice de uma pirâmide onde foi posto de uma base. E como vertice, lá, em cima, é apenas, miseravelmente, a tampa que cobre tudo o que está por baixo, de um vaso de Pandora que contem os males da cultura do “rabo preso” e do “jeitinho”. 
Salvar o Lula significa não abrir essa caixinha que, como uma corrente degradante, inclui todos os que se beneficiaram de trocas de favores e grandes, médias, pequenas vantagens. 
E são muitos: dos empresários aos que beneficiaram de concursos manipulados e licitações; dos oragos institucionais que receberam verbas para melhorar as próprias coisas em troca de apoio ao judiciário que não tem que dar conta dos seus privilégios, até o laxismo perante a sonegação de impostos. 

Mãos Limpas, que emitiu quase 3 mil mandados de prisão, mais de 6 mil pessoas investigadas, incluindo 872 empresários e 438 parlamentares, embora tenha tido “sucesso parcial” em punir políticos e empresários, foi “um fracasso completo na renovação da política italiana”. Nenhuma lei anti-corrupção foi criada 20 anos depois, não houve melhora na transparência do governo nem na prestação de contas. “Pior”, várias medidas “aumentaram a imunidade da classe política ao criar obstáculos para investigações”. Criaram condições para o desenvolvimento de uma corrupção mais difusa e de mais difícil detecção. Uma corrupção 2.0.”

Para se ter uma ideia, menos de 25% dos investigados foram condenados e cerca de 2% dos condenados cumpriram pena em regime fechado. 
O “Moro italiano” explicou que, no começo da operação, as pessoas faziam filas para denunciar casos de corrupção.


Quando os investigadores começaram a descobrir que se tratava de um fenômeno ramificado, no qual até o pequeno comerciante pagava uns trocados ao fiscal para não revelar a sua contabilidade em desordem, o apoio popular foi se perdendo. Resultado: até hoje a corrupção na Itália não foi eliminada. Pior, os políticos ou mesmo o crime organizado passaram a ser os garantidores de um sistema local e mais restrito de corrupção. Lá, a Italia, criou um sistema policêntrico. 

O resultado foi a ascensão de Berlusconi. 
Tomara que aqui seja diferente.
Mas no intento, surpreender-se ou vergonhar-se do que, agora? 


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