Dengue, Saneamento politico e mental

Às vezes, a maior surpresa diante de um fato é a própria surpresa que ele provoca: como se todas as condições não estivessem dadas para sua ocorrência. Um exemplo é a surpresa com que o povo e o governo recebem a epidemia da dengue. “Conforta” que as reações não surpreendam: boatos, alarmes, pânico e gritos aos culpados. 

Me desculpem a pergunta. 
Mas surpreender-se do que? 

Para ter uma, mínima, previsão do futuro e do possível é suficiente olhar, de maneira objetiva e geral, os dois filamentos constitutivos do DNA cultural: de um Pais: 
de uma lado, o comportamento comum do povo (de baixo pra cima) e, de outro, a coerência e eficácia da sua política (de cima pra baixo). 

Bom, vamos ver o povo: 
Ontem estava conversando com um meu amigo fraterno. Mora em SMO. Sábado cortou a grama na calçada na frente da casa dele. O vizinho o viu. Surpreso perguntou o que estivesse fazendo. Arguto. E em seguida começou reclamar contra a prefeitura que não foi lá para cortar; que não estava fazendo nada. Ou seja, se a prefeitura não corta, o cidadão pode deixar a cidade se tornar uma selva. A culpa é da prefeitura. 

E se aplicássemos esse raciocínio também ao lixo? é bem comum jogar o lixo na rua, latas, papeis e camisinhas fora da janela do carro, etc. Mas qual é a responsabilidade dos cidadãos a respeito da mesma cidade e com todos e cada um dos outros cidadãos? Responsabilidade individual? Responsabilidade cívica? O que isso? A culpa é da prefeitura: que não cata o lixo. 

E a política? sempre foram descuidadas (para não dizer desprezadas) as políticas de saneamento e agora nos surpreendemos com a superpopulação do Aedes aegypti e suas consequências. 

A dengue é o resultado óbvio da desatenção com os aspectos sociais, especialmente saneamento e educação.

Há 13 anos o Brasil tem um governo que se elegeu com a bandeira do social: prometendo reorientar as propriedades no uso dos recursos nacionais para atender às camadas mais pobres do povo e beneficiar a qualidade de vida da sociedade. Bom, com certeza, graças a implementação da cultura da divida, elevou-se o nível de consumo de bens industriais das parcelas pobres da sociedade; porém apenas o 63% das residências têm acesso ao saneamento. Praticamente todos que ascenderam no consumo continuam sem saneamento.

Bom, visto assim: a falta de saneamento nas casas é o resultado da falta de saneamento mental, seja a respeito dos comportamentos individuais paternalistas que acham que as suas próprias ações não tem consequências ou que resolve-las compete aos outros/governo, seja das forças políticas que administram as realidades locais e/ou dirigem o Pais.

Sem duvidas precisamos saneamento. Em muitos aspectos: sanear a maneira de fazer política: sem corrupção. Sanear a democracia, saneando o voto, que se torna virulento quando entrega o poder de ter poder aos partidos. Sanear a Saude no seu compromisso com o público e não com políticos, empresários e servidores. Sanear a educação. Muito. Sanear as ruas: não apenas no tratamento das águas e resíduos, mas também na pacificação delas e na liberação do trânsito que assassina milhares por ano.


A fraternidade exige saneamento na consciência economicista e nos hábitos egoístas de cada brasileiro e seus governos e a percepção da necessidade de solidariedade entre todos nós, contemporâneos, e entre nós e as futuras gerações. Exige saneamento mental no individualismo imediatista voltado para o consumo e a próxima eleição.

Comentários

  1. Adorei a análise e concordo que o povo é responsável pela sociedade. Os políticos apenas são reflexo do seu povo e a eles também cabem funções específicas! Um jogar a bola para o outro é como empurrar com a barriga e nunca se levará a lugar nenhum.
    Como sempre, adorei suas analogias!!!

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