Cultura do estupro e silencio (Parliamo)

O estupro e o assassinato da mulher são as formas extremas de sexismo e, apesar da Constituição, das leis, da Maria da Penha e dos valores alardeados da democracia, incarnam uma profunda, enraizada, cultura patriarcal que ainda resiste em reconhecer a mulher como uma pessoa. 
A mulher ainda permanece nos neurônios culturais da maioria, incluindo infelizmente as mesmas mulheres, como uma função sexual e procriadora: é o corpo do prazer, do cuidado e da continuidade da espécie e do patrimonio. 
De fato seja o cristianismo que o direito de família regulamentam isso. E os dois baseiam os seus arquitraves epistêmicos sobre a ideia da mulher enquanto ser sub-humano, frágil, a ser tutelado e defendido dos impulsos ruins. 
A família, nesse sentido, alem de um dispositivo de garantia de transmissão da propriedade seria, também, um lugar/dispositivo de proteção para a mulher. 
Mas a evidencia das crónicas diárias demostram que não é assim não. A mulher, encaixada em mecanismos de amor e odio, de dependência e jogos de poderes. Prendendo a mulher no papel de mãe, institucionalizando a infância sob o poder do homem-macho, o homem constringiu ele mesmo em uma mascara de criancice continuamente ameaçada. Por isso a violência: do homem contra a mulher. 
E da violência ao estupro o passo é breve. 
No programa Parla con Deny da semana passada abordamos bem esse tema referido a “Cultura do estupro”, tão predominante na cultura machista, patriarcal, alavancada por crianças mimadas. Podem escuta-lo no site da radio 103 fm na pagina do Parla con Deny. 
Aqui queria brevemente resumir e integrar alguns conceitos debatidos no programa. 

Estupro: Por estupro se entende qualquer comportamento de sexo forçoso e forçado. Ou seja, cada vez que uma mulher ou homem não querem e/ou não autorizam um comportamento sexual (da uma cantada a passar uma mão na bunda a uma penetração) estamos evidenciando um ato de ESTUPRO. E isso é CRIME. 

Culpabilidade da vitima: Comentários como os que seguiram no twitter e no youtube a respeito da Valentina de Mater Chef Jr ou do video do movimento “Ninguém merece ser estuprada” destacam muito bem o que é “Cultura do Estupro”, ou seja a aprovação e o silencio social em relação ao comportamentos de abuso e a culpabilidade da vitima. Exemplos de comentários: “será que se ela é consenciente é pedofilia” e “vagabunda”, referidos a uma menina de 12 anos e “se não querem ser estupradas porque tiram a roupa, parecem mesmo querer ser estupradas kkk”, referido a campanha para defender o direito da mulher sobre o proprio corpo). 

Quero remarcar o meu pensamento: Se uma mulher se arruma para mostrar o seu corpo porque esse comportamento faz ela se sentir bem, porque se acha bonita, por que gosta ser desejada, etc., está no direito dela. Se ela também quer consequentemente fazer sexo, está no direito dela. O ponto é que se em qualquer momento desses processos de exposição e/ou sedução a pessoa estabelece um limite, um não, isso tem absolutamente que ser respeitado. é um limite intransponível. Alias, ir alem disso é crime. E se é a mesma mulher a não dar-se conta e perder a capacidade de dar-se limites, talvez porque tão idiota e ridícula de ficar bêbada sem dignidade e/ou nem dar-se conta do porque se expõe tanto assim .. bom naqueles caso um verdadeiro homem tem que trata-las como coitadinhas. Ser homem é algo diferente de ser macho. Ser homem é fazer a coisa certa. Ser macho é querer mostrar a própria superioridade colocando a mulher na inferioridade. Ou um gay. 

Coitada: é tão radicada essa cultura do estupro que talvez os leitores nem se repararam que o termo “coitada”, hoje usado de maneira carinhosa, na verdade deriva do termo coito e justamente se referia a todas as mulheres abusadas e estupradas para marca-las e identifica-las sem por isso ter que mencionar o abusador. Ou seja, não tem ato criminoso por trás desse coito mas é uma característica daquela mulher. Que poderia ser sua mãe, sua filha, sua irmã ou namorada.

Vale a pena escutar o programa. 


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