Guia aos protestos 2015: objetivos, usos e consequências 

Com certeza o fato que centenas de milhares de pessoas manifestaram a própria voz é um bom sinal de democracia, especialmente em um país onde ainda é imperfeita. Coerentemente, os ministros J. Cardozo (Justiça) e M. Rossetto (Secretaria-Geral da Presidência) disserem, em uma coletiva em Brasília, que o governo tem disposição em "ouvir as vozes das ruas e está sempre aberto ao diálogo”. Tomara. Para a democracia. 


Porém os protestos não são uma novidade na história do país, como alguns gostariam marcar. A única verdadeira novidade se encontra na pauta dos protestos, que simplesmente não existe: impeachment? Corrupção? Crise econômica? Ou seja, de fato não existe nenhuma reivindicação político-social especifica, organizada e coesa, visada a um objetivo determinado, a não ser uma indiferenciada e desagregada rejeição ao PT, que, porém, ganhou as últimas eleições. Essa incongruência democrática chamou muito a atenção da mídia internacional, que destacou a matriz classista dos ânimos gritantes. The Guardian, por exemplo, enxergou um "protagonismo da classe média branca”, para pedir o impeachment, e alguns, um golpe militar. O New York Times seguiu esta linha e destacou os desafios com a "estagnação da economia, o escândalo de corrupção e a revolta de algumas das figuras mais poderosas de sua coalizão". Também aqui não faltaram esses tipos de interpretações. Interessante o artigo do jornalista Juca Kfouri, que aponta o dedo sobre a hipocrisia da “elite branca” e de “quem bate panelas de barriga cheia”. 

Pessoalmente, considero reducionista o Juca dizer que a revolta representa apenas "o incômodo que a elite branca sente ao disputar espaço com esta gente diferenciada que anda frequentando aeroportos, congestionando o trânsito e disputando vaga na universidade". Esse tipo de argumentação generaliza e ignora a complexidade do assunto. Porém, não se podem negar as hipocrisias de quem, ao mesmo tempo, é beneficiado e protesta contra a corrupção: as empresas, por exemplo, pelo menos as que cresceram com propinas ou “doações legais” para parlamentares. Ao que servem se não ter benefícios em negócios públicos em detração dos canais institucionais? E o trilhão de reais sonegados por ano? Esse dinheiro público fica nos bolsos de quem? 

De fato, a corrupção é endêmica. O tucano Semler afirmou que sempre se roubou, e muito mais, só que não existiam todas essas redes sociais. E o Barusco que tem que devolver 97 milhões roubados? Bom, constituem o 0,5% do negócio em questão. Cada vez que um brasileiro compra no exterior (Paraguai?) pulando a aduana rouba mínimo o 30%. E ai? Quem rouba mais? O que fica claro é a insatisfação de uma classe que não tolera um partido que insiste com uma pseudopolítica econômica marcadamente de esquerda, apesar e além do rabo no poder e na corrupção. Política que, através dos óbvios e previsíveis cortes aos incentivos e financiamentos e a circulação de liquidez, mexe e prejudica o status-quo micro e médio empresarial. 

E tudo isso não se resolve apontando o dedo. As únicas efetivas consequências que os protestos produzirão são: o enfraquecimento do governo, que vai ter que enfrentar uma agenda negativa, que pagará o preço da composição política e que se mobilizará para melhorar as relações com o congresso mais alguma medidas “mágicas” que terão o sabor do jeitinho mais do que algo de estrutural. De fato, não se muda o espelhado sem mudar o espelhante. O meu medo? Que heterodoxamente se risca de mudar tudo para não mudar nada. 

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