Contra os bloqueios e contra a corrupção

Com essa coluna quero dar voz a quem, que nem eu, é contra a corrupção, seja contra os bloqueios dos motoristas, conseguindo, com um mínimo de entendimento e equilíbrio emocional, dar-se conta que: 

Corrupção, insatisfação política e reivindicações dos motoristas são questões que não têm pertinência, coerência e correlação direita um com o outro e associá-las ativamente à mesma causa, até chegar ao ponto de auto prejudicar-se, é algo, além do que dramaticamente “simplório”, profundamente perigoso para o sistema país e para a mesma instituição da democracia, e já explico porque: 

Greve e motoristas: as reivindicações dos motoristas são assuntos técnicos específicos de uma categoria de trabalho. O valor do frete é um acordo empresarial dentro da dialética padrões-autônomos, baseada em lógicas de mercado. Os valores não subiram até agora porque a quantidade/oferta de pequenos transportadores autônomos aumentou muito, reduzindo obviamente o valor de mercado, seja porque os mesmos, cada um pensando em si mesmo, nunca se organizaram para ter uma liderança forte reconhecida capaz de negociar na corporação.  E sem liderança representativa, quem renegocia a questão específica do pedágio? E com quem? Mesmos princípios para a renegociação dos financiamentos, onde o interlocutor precípuo é o BNDES, que até então sempre foi generoso nas políticas de auxílio às pequenas e médias empresas. Foi essa política de generosidade que permitiu a muitos arriscar uma carreira empresarial autônoma. Esse é ponto em que emerge a falta de planejamento desses inexperientes empresários e as pretensas paternalísticas que sejam outros a pagar as falhas de um incauto planejamento de empresa. Me refiro aos aumentos do diesel, etc., para que o negócio de motorista autônomo não se tornou mais sustentável. O que tem a ver tudo isso com a corrupção? 

A
umentos e corrupção: Nada. O fato que os valores dos bens de consumo essenciais controlados (diesel, luz, faz, etc.), assim como o da inflação, teriam logo estourado é algo que já é evidente e previsível há pelo menos dez anos. Algo que depende do modelo econômico dos governos, que confusamente mudaram nesses anos, passando do controle centralizado das sociedades públicas a participação como sócio maioritário as privatizações e leilões, e que abertamente visaram a explosão do desenvolvimento rápido em curto prazo, através do bloqueio dos valores da gasolina, dos juros bancários, etc., baseado não em infraestruturas, mas em circulação de liquidez e dívidas, em troca de um adiamento da inflação: ou seja, dos aumentos que estamos começando a sofrer. Desenvolvimento e circulação de liquidez do que muitos, incluindo a maioria dos protestantes, especialmente os motoristas, se beneficiaram, tanto é que se tornaram autônomos. Gritei isso, alarmando por esses aumentos, nas minhas colunas do ano passado. O leilão do Pré-Sal foi o clímax. Ninguém deu bola. Ninguém se indignou ou protestou. Estava longe do trevo? Agora, quem abriu uma empresa sem calcular esses aumentos, estruturais e previsíveis, até chegar a não conseguir mais deixar o negócio redondo, simplesmente não acertou o planejamento de empresa.

Contra os bloqueios: uma greve é um direito. Regulamentada pela lei 7.783, Art. 2. Uma voz que represente os pedidos teria que negociar com a contraparte técnica preposta a deliberação ou menos do requerido, em uma negociação pertinente finalizada. Impedir de recusar-se ou obrigar em participar, ameaçar quem não quer essa forma de protesto, apedrejar, etc., é algo profundamente violento e antidemocrático. Beneficiar-se de uma onda quente de raiva e insatisfação geral por questões que não pertencem à mesa de contratação corporativa, chegando a explorar uma pressuposta representatividade indiferenciada e moral do país, até prejudicar a coletividade em médio e longo prazo, abrindo e cavalgando a soluções não ortodoxas, é, além de irresponsável, um perigo pela mesma instituição de democracia. E se cada vez que alguém tem que reivindicar algo para si mesmo fechássemos as ruas e prejudicássemos todos? A gente vai pagar tudo isso daqui a 3-4 meses. E vai ser punk. Não é só ficar sem gasolina alguns dias. 

Contra a corrupção: as reivindicações são corporativas. Os aumentos, como demostrado, não dependem da corrupção. Que existe. E não pertence somente aos “políticos alienígenas”. A corrupção, no sentido amplo do termo, é um mequeníssimo não institucional paralelo de benefício privado de um bem público. Inclui evasão fiscal; o “quem indica”; compra/venda de votos, atestados, acostamentos, seguros, aposentadorias indébitas; devoluções por prestações médicas não errogadas ou diferente, peru de Natal, contrabandear do Paraguai-Argentina, roubar a tevê satélite, etc. Todos esses comportamentos, ao longo do tempo, prejudicarão pesadamente a igualdade social, o sistema país e a democracia. Não se pode comer avidamente e acusar a imagem ao espelho de ser gorda. 


Quer mudanças/quer mudar? Os protestos, sejam políticos ou corporativos, se atuam no voto e nos protocolos institucionais. Qualquer solução heterodoxa ou a procura de uma figura/voz carismática e forte que resolva tudo, o pai que disciplina os filhos, desperta os fantasmas de regime do passado. Estou preocupado. A Venezuela não é tão distante. 

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