Corrupção como tradição
Os casos Pizzolato, Petrobras, Lava
Jato, etc., nos oferecem a oportunidade para começar a dissecar um tema sempre
quente nos papos entre um chima e uma gelada: a corrupção. Iniciamos dizendo
que não é uma coincidência que o ex Dir. Mkt. do BB condenado no mensalão fugiu
bem na Itália, assim como os italianos do pós-guerra fugiram no Brasil. Os dois
países, do ponto de vista sociológico, político e cultural, são muito
semelhantes em termos de corrupção, tanto que no último relatório do
Transaprency Internacional os dois países figuram respectivamente no 69° e 72°
lugar entre 176 países, ambos lamentavelmente lanternas traseiras das
democracias civis. Em geral a corrupção, ou seja, o uso de mecanismos de
negociação paralelos ou alternativos aos procedimentos burocráticos e
institucionais, torna-se o momento em que, na luta entre as instituições
políticas e os instintos egoístas e utilitários, os poderes de influência
política e de força econômica sobrepõem-se e soldam-se nas mesmas mãos,
legitimando assim a riqueza como poder sobre os homens e o poder sobre os
homens como meio para acumular riqueza.
E quem paga é o povo. Mas o ponto
essencial, que não se pode repelir de si mesmos, é que, em um sistema de
representação os lugares de poder não são ocupados por alienígenas que os
usurparam, mas por cidadãos que foram enviados para agir em lugar de quem os
mandou. Então não são outros. Somos nós. Farinha do mesmo saco.
E Brasil e Itália, neste sentido, têm
aspectos muito semelhantes. Ambos são terras historicamente ricas de
diferenças. Ambos tornaram-se democracias, de repente, sem um processo de
construção de uma identidade comum, sem o espelho de um nós e preparo cultural.
Desta base pode-se até mesmo enviar ao governo “UM como você" para que o
represente. Mas uma vez lá, como é que conseguirá agir para cada um, se não há
um "nós"? O que prevalecerá é o "cada um por si". Um
princípio de existência típico da herança agrícola dos dois países. Quem vive
da agricultura vive em contínua competição de soma zero com os recursos
naturais, ou seja, como se o sucesso de um dos dois competidores não pudesse
ser conseguido se não à custa do fracasso do outro. Neste sentido, a corrupção
(e a exploração, desconfiança, o excluir, etc.) não deve ser lida como
comportamento desviante, mas como linguagem de identidade. Nunca nasceu o
sentimento de nação como mesma mãe de irmãos deferentes. E a ideia de estado
ficou assim longe. Cada um faz a sua lei e os seus interesses.
Mas pelo menos o BR hoje está tentando
reagir. Além do julgamento-show do mensalão, anotamos a nova lei que impede aos
condenados de candidatar se e aquela que autoriza o STF a julgar os governantes
sem pedir o aval ao Parlamento.
Se essa virada é apenas uma operação
de marketing para diferenciar o BR dos outros países do BRICS (que se destacam
por corrupção) e assim ganhar credibilidade para atrair investidores ou, de
outro lado, uma verdadeira mudança cultural, vão ser os comportamentos de
legalidade, respeito para o bem comum e participação política de cada cidadão a
sancioná-lo. Mas disso falaremos em outra coluna.
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