Qual presidente? Qual futuro para o Brasil?
Por duas razões:
a primeira é que a política
de governance brasileira, em geral,
em todos os níveis, é de baixíssimo calibre. Falta cabeça. Falta capacidade,
vontade e interesse ao planejamento de políticas de médio-longo prazo finalizadas
ao bem do Brasil enquanto nação. E sem cabeça, a confusão e o dia a dia
dominam. Isso é evidente, por exemplo, em um nível de governos federais, da instabilidade do modelo de política econômica post ditadura dos
últimos 25 anos, com as suas alternâncias entre modelos de economia de Estado,
privatizações com participações minoritárias, reversões extremas, leilões,
ambições de desenvolvimento do mercado interno absurdamente contraditórias bem como
entregar-se ao FMI e ao mesmo tempo fechar-se com medidas antiliberal ou mesmo
pretender dominar o cenário internacional querendo contrapor-se ao dólar direcionando
o BRICS;
ou da mesma forma, em um nível de governos municipais, dá pra ver isso com a evidencia
da praça de SMO entendo-a enquanto produto das alternâncias partidárias.
Moral
da história? Ou faltam ideias programáticas ou a ideia é aquela de aproveitar
do momento.
Não sei quais das duas hipóteses é pior.
E nessa linha, assistir ao
confronte-debate entre a Dilma e o Aécio foi uma confirmação disso. Algo de
muito desolador. Nem uma explicação de programa.
Um monte de “intenções” sem
explicar como e com que dinheiro.
Uma guerra gerida como contraposição pessoal e
moral e não programática, totalmente baseada sobre banais mecanismos de
persuasão emocional e ativação visceral do povo. Sem conteúdo. Um deserto de
ideias.
E isso leva a segunda razão do meu não querer
escrever de política. A falta geral de consciência política critica.
Aqui as
pessoas torcem para os partidos assim como time de futebol. Escolhem a pessoa assim
como se venera um santo e não as ideias que sustenta. Se tornam fãs.
- Todo que o que faz o “meu amigo” é bom e eu
curto. Quem não é meu amigo é meu inimigo e tudo o que ele faz é péssimo e não curto.
-
Exatamente como no Facebook, em uma progressiva e circular logica de grupos
de interesses clientelares.
Que adianta escrever então? Na minha vida já votei
partidos conservadores, socialistas, moderatos e radicais. O diferencial era o
programa proposto que eu achava o melhor para o bem do pais naquelas fases
históricas.
Não que isso não acontece também aqui, em medida menor, tanto é que
os dois se contendem 25 milhões de eleitores indecisos. Mas qual é o jogo e
quais as consequências? Do que precisa o Brasil?
Por
um lado, a inegável que a Rousseff pode reivindicar sucesso nos programas
sociais empreendidos por Lula e realizados ao longo dos últimos 12 anos, com o
surgimento de uma nova classe média de consumo (a mesma que agora, em grande
parte apoia AN) e uma taxa de desemprego em níveis historicamente nunca tão baixos.
Por outro lado, Neves é proposto como a única alternativa credível para o 59%
dos eleitores insatisfeitos com a gestão do PT, atingida ao longo dos anos por
vários escândalos, o último em ordem de tempo, o da Petrobras.
Seja
qual for o resultado da votação, as urnas já parecem ter frustrado o desejo de
mudança expresso por milhões de brasileiros nos protestos oceânicas de
Junho-Julho de 2013 O novo presidente, que governará até 2018, ainda vai ser
uma expressão de uma das duas partes que se disputam o país há 20 anos, ou seja
por seis eleições consecutivas.
E
quem será o novo presidente, de qualquer jeito, terá que lidar com um Congresso
bastante fragmentado, em que sentam 22 partidos políticos, e de onde saiu
enfraquecido o PT (-18 deputados) e ligeiramente melhorado o PSDB (10
deputados). Mas acima de tudo, tem crescido fortemente o frente conservador no
Parlamento. Cerca de 40% do Congresso tem sido renovado: aumentou o número de
líderes evangélicos (pelo menos 40 são bispos e pastores), militares, policiais
e proprietários de terras, enquanto diminuíram os sindicalistas. Em qualquer
caso, para assegurar a estabilidade, haverá a satisfazer ao governo um grande
número de partidos e partidinhos. E para sair desse pântano, ambos os
candidatos prometeram a reforma política, com diferentes nuances, mudar a lei e
as instituições eleitorais.
Questões
como a descriminalização das drogas, direitos e aborto gay (o Brasil tem uma
das leis mais rígidas do mundo) não são susceptíveis de entrar no debate
político nos próximos anos que se preanuncia ser focado na economia. Ambos estão
cientes de que precisa manter a inflação sob controle e elevar os níveis de
crescimento. Mas, para fazer isso, é preciso colocar-se claramente do ponto de
vista da geopolítica internacional.
Nesse
contexto, o PSDB declara querer algumas mudanças, o que teria um impacto não só
dentro dos Brics, onde o Brasil tem um papel de destaque tendo assinado acordos
com a Rússia, privilegiando uma deslocação do bilateralismo ao
multilateralismo. Estes novos agregados geopolíticos têm um papel muito forte e
estão colocando em causa a dominação dos países ocidentais, principalmente os
Estados Unidos.
Se vencer
a Dilma, como muitos líderes mundiais provavelmente gostariam, não seria nada
subvertido dessa forma porque existe uma perspectiva de alargamento para o
2015-2016 mas isso não significa que seria a escolha melhor. Mas então, quem representar
o Brasil nos Brics, terá que ter em conta esse compromisso. O Brasil nos
últimos anos assumiu uma posição antiamericana, isso é muito claro, propondo-se
como player global contra todos os outros países que dependem do cenário
internacional, fazendo acordos com a América Latina, Rússia, Ucrânia e China. O
Partido Conservador, ao contrário, é o fio americano, e já se declarado pronto
para assinar acordos de cooperação; é por isso que The Economist se colocou
claramente em seu favor.
Mas enfim. Será que todo isso pesa nas escolhas dos
leitores ou a “camisa” é suficiente para torcer?
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