O jogo dos sentimentos

Quando a Itália saiu da copa, além de achar que, tendo perdido dois jogos sobre três, a eliminação foi merecida, senti junta á tristeza e decepção naturais, uma quota de alegria para a felicidade dos outros, os uruguaios neste caso. No esporte, assim como na vida, de fato, o nosso sentimento é interdependente e complementar ao dos outros. Os sentimentos são algo diferente das emoções e dos impulsos mais primitivos. 

A emoção é uma experiência pessoal, baseada sobre a sensação; é algo básico, individual: raiva, prazer, desconforto. O sentimento, diferentemente, é uma evolução da emoção por meio da ação do pensamento; algo que tem a ver com os outros: a compaixão, o reconhecimento, a gratidão, o amor.

Portanto, ser capaz de ter sentimentos não é algo herdado, que se transmite geneticamente, mas é aprendido através da capacidade de reconhecer as emoções e orienta-las cognitivamente, o que ocorre nos primeiros três anos de vida.


Quem tem o dever de ensinar, portanto, a competência aos sentimentos são a família e a escola. Como? As crianças precisam ser acompanhadas, passo a passo, com um tempo-quantidade pelos pais, que teriam que traduzir as experiências e conquistas diárias dos filhos em princípios de certo e errado, também usando punições e limites (dizer Não). Hoje, nem todas as sociedades ou classes delas se permitem este tempo-quantidade (muitos pais têm que trabalhar em dois para sobreviver ou escolhem de faze-lo pra si), preenchendo o tempo dos filhos com babás ou televisão e compensando a ausência com um tempo de qualidade (no final de uma semana) cheio de presentes e "coisas bonitas".

Por outro lado, há a escola que teria que ensinar a traduzir as emoções em sentimentos através da literatura e da paixão pela matéria/conhecimento. Os jovens aprendem por amor. Quem desistiu de estudar uma matéria porque o professor era chato e não apaixonou aquela matéria? Se estuda o que se ama. Mas como pode um professor apaixonar ao estudo se se sente frustrado, desvalorizado ou incapaz? 

Sem educação aos sentimentos, o risco é criar gerações de pessoas emocionalmente analfabetas ou seja com ressonâncias inadequadas para lidar com os eventos: por exemplo, incapazes de distinguir a diferença entre paquerar uma garota e estuprá-la, ou entre discutir e bater. Sem sentimento se criam pessoas que levam tudo a pessoal, ressentimentosas, incapazes de sentir compaixão pelo mal estar dos outros, pela injustiça social. Incapazes em distinguir entre o certo e o errado, o bem e o mal. Isso, em uma sociedade, rica, onde tudo é possível, pode chegar a extinguir o mesmo sentido de desejo. O que consegue é apatia, preguiça, insensibilidade, depressão.

Resumindo, uma sociedade baseada sobre a emoção vai ser fisiologicamente individualista, insensível, classista e criminosa por falta do conceito do outro. 
Ao contrario, a baseada sobre o sentimento vai ser respeitosa, honesta, solidaria, cívica.

E você? Vai fazer o que se o Brasil sai da copa? O que vai dizer/ensinar aos seus filhos?

Comentários

  1. Aprendi que não podemos ganhar sempre, mas que toda derrota deve trazer um aprendizado para toda a família..Aprendi acima de tudo que é na derrota que afloram os piores e os melhores sentimentos se souber lidar com eles e depois passa-los para seus filhos!!!!

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