Fred: o embaixador do Brasil


(Me) parece que o governo está usando essa copa do mundo como cartão da visita e/ou de credito, para um complexo jogo político que tem como clímax, no cenário interno, as eleições e, naquele externo, a credibilidade internacional e a tanto desejada cadeira permanente no conselho de segurança da ONU. 

Muitas pessoas acreditam que o sucesso ou não desses alvos vão depender do resultado da seleção no campo, em uma simplista equação: se a seleção ganha, a Dilma ganha. 

Disso eu duvido. Mas se a “imprevisibilidade” do povo brasileiro em questões internas é algo tanto ilógico quanto histórico (é só lembrar a eleição do Fernando Collor), o que conta aos olhos do mundo para atribuir credibilidade (e maturidade) ao Brasil vai bem alem do que acontece na quadra, apesar que o jeitinho do Fred na área possa selar definitivamente a (precária) credibilidade de um pais como já aconteceu para a Argentina (lembro que após a “mão de deus” de Maradona no 1986, a Argentina caiu em um caos sócio-econômico-político dramático, como nunca antes, bem por que perderam de credibilidade e foram deixados sozinhos com uma repente inflação que subiu em 1987 ao 383% ate o 3000% do 1989 e um limiar de pobreza ao 47,8%).

Bem, agora estou em Milão, Italia e é muito interessante dar-se conta do que falam e de como é visto por aqui o pais da copa: em particular, comentários referentes contradições e atitudes consideradas inexplicáveis.

Primariamente os protestos, que no dia da inauguração fizeram 7 feridos. Se destaca que são contra as enormes despesas que o governo iria coloca apesar de uma situação desconcertante da população em vários aspectos: educação pública, transportes, ilegalidade, criminalidade, saúde, direitos, etc. O que chega aqui é a imagem de um descontente geral e de uma policia repressiva que defende a escolha de investir uma quantia absurda de dinheiro para uma festa quando o bem estar diário do povo tem que ser ainda alcançado.

Pessoalmente ressalto outra ambivalência entre a gestão dos recursos financeiros públicos e os ideológicos, sendo que é, sim, verdade que o governo destinou quotas de financiamento para a educação pública, mas por outro lado os professores que entraram em greve em 2013 sofreram uma repressão sangrenta da policia; na minha opinião, os professores brasileiros teriam que ser considerados heróis, sendo que ensinam em condições péssimas e com um salário desonroso.

Vislumbra-se outros traços de Brasil que essa copa mostra ao mundo de maneira implacável: 

Por exemplo que o povo nas arquibancadas é todo branco. As crianças, aqueles dos comerciais que jogam nas favelas, para as quais o futebol parece ser a vida, não podem ir ao estádio porque não tem como paga-lo. Já escrevi como a desigualdade social vai ser a condena do Brasil porque, de fato, a sensibilidade sobre esse ponto é imensamente diferente e distante entre os dois mundos e sem uma consciência social cívica baseada sobre os direitos cívicos nenhum pais vai poder ter digna legitimidade internacional. 

A seguir o atraso das obras. Aqui tiram sarro para não ficar chocados: 7 anos de tempo para finalizar obras e no dia da inauguração a seleção que joga em um estádio com uma curva provisória. Ou o campo de Manaus, onde vai jogar a Italia, ainda sem grama por que não foi cumprida a linha da Fifa que obrigava a usar lâmpadas especiais para a foto-sintetizar. A organização “economizou” também sobre isso e o campo fica indigno, com, que nem ma piada, a imagem largada nas televisões de um único, coitado, jardineiro trabalhando tentando resolver o problema. Um gol contra pior daquele do Marcelo.

E o que dizer da  Dilma e do Blatter, os dois candidatos as respetivas cadeiras, que não fizeram nenhum discurso inaugural para evitar assobios, aliás que teriam sidos merecidissímos para uma inauguração horrível, envergonhosa e indigna para um povo capaz de organizar o melhor e mais belo show do mundo, o carnaval de Rio. 
 assim por diante. 

Paulo Lins, jornalista brasileiro que escreve para El País Semanal, conta como "no país do futebol, ninguém está feliz”.

Então me pergunto, será que as vitorias da seleção serão suficientes para permitir ao Brasil de ganhar o jogo?

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