O direito de ter direito
Desde que moro no Brasil, a lista de
ocorrências para me passar a perna e lucrar dinheiro, mais do que extensa é
virtualmente interminável: acordos e contratos não respeitados, palavras não cumpridas,
valores aumentados de repente, cobranças absurdas, multas injustas, etc. Tudo
por dinheiro. Dinheiro, dinheiro, dinheiro: danado, sujo, imediato. Calculei
que em pouco mais de um ano o dinheiro “jogado fora” (perdido? subtraído?) por
não ser “experto” com “essas atitudes” para que não estava preparado é mais ou
menos de 70 mil reais . De fato, paguei um Mestrado em "jeitinho e
malandragem".
Em relação a isso, vivi três etapas.
Na primeira, que poderíamos chamar de "paranoide", atribuía estes
comportamentos diretamente ao fato de ser estranho e estrangeiro, conforme ao
cliché de leigo e rico: ou seja, que não sabe, que passa, que vai embora e traz
euros.
Lembro uma vez em que comprei uma
planta para um casal de pacientes. 24 reais o valor exposto na placa, rigorosamente
virada para a parede e não para os clientes. A planta foi em seguida trazida a
caixa, com o dedo da dona "casualmente" caído na placa a cobrir o
valor. “Você não é daqui, não é?" foi a pergunta. "De fato sim, moro
e trabalho aqui, mas sou italiano". "Ah sim, ouvi falar bem de você; isso
é ótimo, bem-vindo: a planta custa 29 reais”. Beleza, 24 para a planta e 5 para
a lição. Fazer o que?
Mas ao longo do tempo percebi que só
uma pequena parte disso é pessoal. De fato, esse canibalismo ao dinheiro é comum.
Entramos na fase dois, aquela “do estudo”, ou seja, entender origem e
significado dessa característica geral. Cheguei a hipnotizar três fatores. O
primeiro é a matriz cultural agrícola, que induz as pessoas a obter o máximo
benefício alcançável no imediato a partir dos recursos da terra, em uma luta
constante com a natureza e as adversidades. A economia agrícola é definida como
uma economia fechada, de soma zero, em razão do fato que a maior
disponibilidade de riquezas para um, baseia-se sobre a menor do outro, em uma
competição constante de acumulação e subtração. De um lado, isso explica a legitimidade
sem moral do habito de passar a perna para obter algo para si mesmo. Bem por
este aspecto a cultura agrícola é chamada em antropologia de "economia de
assalto”. Uma característica típica das culturas de migração assim como a
condescendência. A lógica é simples: “se
fecho um olho com você enquanto acumula bens com jeitinho, espero que: a) Vai fazer
o mesmo comigo, no caso; b) vai usar esse ganho para comprar de mim, como
reconhecimento de amizade”. Em última análise, é uma troca; negocio; conivência.
Mesmo porque, sendo assim, ter dinheiro torna-se um Deus moderno que tudo
perdoa. Enfim o terceiro fator, herança tribal: o valor de aproveitar a vida
que não bate com a cultura do trabalho. O canibalismo ao dinheiro permite de
conseguir mais fazendo menos, legitimando a lógica do “trabalho de dia para
chegar à noite” na espera do que importa: o final de semana.
Mas a sociedade evolui e nem todos se
sentem mais à vontade com estas atitudes. Chegamos assim na etapa três. O direito
a ter direito: dar voz a quem quer uma boa sociedade não baseada sobre o poder
do esmago do direito em busca de uma vantagem (econômica? De outro tipo?) pessoal
sem sentido cívico, mas um lugar espelho de cidadãos responsáveis.
Por exemplo, pelo que tema ver comigo,
nos quase 100% das vezes que compro, o troco está inferior ao devido e, em alguns
casos, o preço cobrado a mais do que o indicado. Sendo que guardei todas as notinhas
de compra, calculei que o valor deixado nos supermercados sem qualquer motivo e
justificação é de acerca 20/30 reais. Acho bem didática dessa atitude não
casual uma vez em que tinha a receber 48 cent. Ao invés de receber uma moeda de
50 cent. (2 a mais, mesmo em compensação as varias vezes que bem sabem de
restituir troco inferior), recebi 3 moedas (repito: o incomodo de três moedas,
com certeza uma ação mesmo incoerente para quem sempre se lamente de precisar
de moedas pelo troco) para um valor de 45 cent (três a menos do que tinha que
receber). Será uma casualidade? Se multiplicarmos isso por todos os clientes...
Seria bom não permitir mais isso. Eu
estou nessa fase. Alguém outro fica na mesma?
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