O "valor" do conhecimento

Porque inscrever-se a universidade? Por paixão para a disciplina a aprender? Para o prestígio social de um título? Para aspirar a salários mais elevados?

Sem dúvida, o sistema de ensino no Brasil é uma das questões sobre a qual valeria mais a pena fazer uma pausa para refletir e discutir. Hoje visamos rapidamente o sistema universitário público e particular, focando nos especialmente sobre as características deste último. As universidades privadas, a partir dos anos '70, sob a moldura da Lei de Diretrizes de Base (LDB) de ’61 e da Reforma Universitária de '68, têm conhecido no Brasil três grandes ondas de expansão. Entre 60 e 80, o número de matrículas passou de 200 mil para 1,4 milhão, em um crescimento de quase 500% e no setor privado de mais de 800%. A Constituição de 88 reiterou o princípio liberal do ensino privado, libertando-o do controle do CFE (Conselho Federal de Educação) e desde aquele momento ao ’96, as universidades particulares, sob o controle de alguns grandes grupos estrangeiros dos quais 36 de capital aberto, triplicaram, até cobrir hoje o 75% do ensino superior em geral e 90 % das estruturas do território, com as suas 2.069 instituições privadas, das quais o 40% com fins lucrativos.

Geralmente, o sistema de ensino particular ganha mercado quando um país passa por uma fase de crescimento econômico, onde há fome de carreira e ambição social, ou de recessão, quando há a necessidade de coibir o acesso ao emprego (que falta).

Razoavelmente no Brasil tem a ver com a primeira razão mas os dados acima citados, apesar da internacionalização do capital e da globalização, devem necessariamente cruzar-se com outra realidade importante do país: a desigualdade de acesso às universidades brasileiras (apenas 19% dos jovens); a taxa de crescimento das demandas muito baixas (menos de 22% - muito abaixo da média mundial do 30%); o não reconhecimento internacional de qualidade do mesmo
(não há universidades brasileiras no top 200 do mundo); a escassez na internacionalização do ensino superior: competência limitada para Inglês e ausência de professores estrangeiros (razões formais e documentadas que levaram a RUF a abaixou, por exemplo, a USP, pérola da América do Sul, de 158 ° lugar no 2012 a faixa entre 226°-250° no 2013).


Este é o cenário que leva o Economist a afirmar que:” as universidades particulares estão lucrando neste contexto no qual, na maioria das vezes, constituem apenas fábricas de diplomas de valor questionável, muito longe de ter o prestígio de uma publica mas, mesmo assim, com o poder de permitir de aumentar o salário de um jovem no setor público”.



Esse o ponto: as universidades particulares brasileiras ficam em um conflito intrínseco-estrutural do qual não vão conseguir sozinhas.

Por um lado, sendo empresas que investiram muito, ficam obrigadas hoje em responder a um mercado caraterizado por enorme oferta e baixa demanda: a lei econômica da concorrência e do lucro leva, por tanto, em ir à caça de inscrições. E como conseguir? Em uma cultura onde o padrão para "arranjar alguém para si mesmo" consiste em "facilitar" (mães que mimam para segurar os filhos perto; mulheres que seduzem, aquiescendo tudo, para conquistar os homens; políticos que prometem apertando mãos para ter consensos e Estado que paga para ter votos) acaba a repropor-se o mesmo esquema, permitindo: professores que comportam-se como amigos dos alunos; que não forcam ou elevam o padrão de ensino para não gerar reações negativas e fugas; que nunca reprovam; que ficam subjugados por pais pagantes ou que têm que competir entre os mesmos colegas para uma quantidade razoável de horas. Tudo isso induz, obviamente, ao outro lado da questão: a perda de credibilidade e prestígio do valor da instituição acadêmica e do sistema aos olhos do mundo do trabalho. Quem vai contratar um profissional formado em uma escola que não estimula e filtra, atuando e cativando como uma família ao invés de preparar a competição do mercado? Apenas o setor público.

Resumindo, o que vale a pena? Passear por uma fábrica de diplomas e apontar a um concurso ou visar a uma preparação qualificada mas dura para preparar-se ao mercado?
Para cada universidade particular, que autonomamente posicionamento no eixo do conflito uni-empresa/uni-acadêmica, a resposta se encontra em como o resolvem, ou seja nas atitudes de alunos, professores e pais sob a hegemonia da mesma instituição.



Então, repito: por que se inscrever?

Comentários

  1. Sem dúvida o que vale a pena é apontar para uma preparação qualificada mas dura, que prepare para o mercado, é a partir dai que se prepara para o mercado competitivo, de onde nascem as novas ideias impulsionadas pelo desejo da criação e competição. Acredito que existam Boas instituiçoes particulres e professores que são exceção á regra do protecionsmo, mas sao exceções. Porém em um país onde onde o percentual do PIB para educação é baixissimoe há descontinuidade na Politica, onde cada um que chega ao poder quer deixar sua marca , não há muitas opções para uma população jovem , nem tao sedenta por conhecimento e pouco competitiva.

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