As Mina pira

As pessoas podem comportar-se diferentemente do que dizem e até mesmo do que pensam. Muitas vezes sem mesmo perceber. O que determina as ações, de fato, são os valores culturais: forças influentes difíceis de ver claramente, mas que a arte é capaz de antecipar, traduzir e divulgar de forma poderosa. Ler a linguagem da arte é como ir à escola de verdade sobre os comportamentos concretos. Então, o que nos ensina uma matéria importante: a música.

Muitos professores enfatizam uma forte axioma dessa cultura: o que importa na vida é fazer festa e fazer festa significa transar e ficar bêbado até se sentir mal.

Citamos aqui algumas teorias de ilustres luminares: "Mulher, Mulher Mulher (ideia fixa na música brasileira), melhor que uma mulher só dez mulheres; melhor que dez mulheres só mil mulheres" por Neguinho de BF. “Abasteci a geladeira, tá lotada de cerveja-cachaça que vai subir de fazer zum zum-o cheiro do amor não vai acabar e tudo o mundo vai pirar e ficar nu” dos professores Lucas e Renan na teoria “Zuar e beber”. Mesmo conceito destacado em “festa no apê”: “no meu quarto tem gente até fazendo orgia” até chegar a Tom e Arnaldo: “Tô muito ruim-Olha o jeito que eu tô-Chapado- travado-Perdi o rumo de casa”.

A lista é interminável. Basta ligar o rádio.

Mas a música vislumbra pra nos uma outra tese fundamental que alimenta essa cultura: as mulheres são apenas objetos, objetos sexuais, cuja função e finalidade é seduzir e perseguir até serem pegas, o que se torna mais fácil quanto mais bebem. A corrente acadêmica deste conceito é muito encorpada, de "Chora me liga: não era pra você se apaixonar-Era só pra gente ficar-implora meu beijo-Quem sabe um dia eu volto a te procurar” (Bosco e Vinicius) a “as mina pira” á “Vâmo mexê-Não importa quem vai ser-Já peguei minha agenda-E liguei de A a Z” (M. Teló) até o manual “Pantera cor de Rosa: Toda produzida, jeitinho de santinha-doida pra perder a linha-Sabe se vestir do jeito que o homem gosta-Vestido apertadinho-Pra que? p(r)ada p(r)ada” dos mestres Munhoz e Mariano.

E por que isso? A resposta é nos oferecida pelos mesmos exímios na obra Camaro Amarelo: “Quando passava na minha CG, você nem me olhava-Aí veio a herança do meu véio-E agora você diz: vem cá que eu te quero” ou por Pedro e Allison na bíblia Cambada de Biscate: “Elas ficam me ligando-Depois que eu troquei meu fusca num cherokee-Elas me chamam de bonito Só porque o cartão tem limite infinito”.

Enfim, cada vez que vejo a "mulherada" louca para essas músicas, cantando, curtindo e reforçando letras e valores, fico atônito me perguntando: “será que elas vão reclamar ou não quando namorarão com homens que não as valorizarão, as tratarão como propriedade ou como empregadas da casa e as traíram quando o corpo delas cairá? Especialmente se não tem dinheiro para a cirurgia plástica? Será que percebem que encontrarão exatamente o que estão gritando de querer e merecer.

Aliás, em outros países estes textos causariam tumultos feministas ferozes. Aqui boates cheias.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mudita - O princípio da felicidade

Pilotos cegos ao governo e...protestos

Crianças Mal Educadas (como rechonece-las) e Sentimento Civico