Bolsa Família sim? Bolsa Família não?

Nessa parte do Oeste, a visão predominante sobre o Bolsa Família e, mais geralmente sobre os subsídios assistenciais do governo é, sem dúvida, muito negativa.
Aqui as pessoas que nutrem e movem esta região espelham-se e reconhecem-se na cultura do trabalho. Agricultores que não economizam o esforço em trabalhar suas terras e comerciantes que não desistem sob os desafios adversos do mercado. Aqui a gente trabalha! E é graças ao trabalho que hoje esteja-se melhor do que os nossos pais e avós, com o desejo e a ambição de que tudo vai sempre ao melhor para os nossos filhos. Por esta razão, é difícil aceitar que parte dos seus rendimentos, frutos suados e merecidos deste trabalho, por meio de impostos, apoiem quem quer evitá-lo. Claro, ninguém recusa-se de ajudar aqueles que realmente precisam. A raiva e o sentimento de injustiça são direcionados para aqueles que se aproveitam disso (mas qual'è o filho que não deixa o seu quarto uma bagunça aproveitando-se ou simplesmente não vendo mesmo a razão de arruma-lo, quando cresce sabendo que a mãe o arruma para ele?) e para os políticos, que são acusados ​​de comprar, desse jeito, votos para continuar a fazer os seus próprios interesses.

Exposta desta forma a questão, de uma perspectiva econômica de quem trabalha, de baixo dos mercados (bottom-up) a resposta vêm simples: BF e afins, por bem como são agora, Não! Mas o que seria da sua opinião se adotássemos uma visão diferente; por exemplo, uma financeira, macro, de sistema (top-down)?

Já se perguntou alguma vez do que vem e sobre o que baseia-se este novo bem estar? Este desenvolvimento econômico tão forte e rápido (mais rápido do que as mesmas pessoas conseguem adaptar-se?). Os nossos pais também trabalhavam mas, mesmo assim, eles sempre viveram em um país muito instável, dominado pela hiper-inflação (chegando a mudar 7 vezes a moeda  dos anos '70 a '90), dos governos precários e frágeis , que abriram a ditadura, com uma taxa de analfabetismo de 14,6 % em 1999 (contra 8,5% hoje ) e um desemprego de 7,5% (em comparação com 15,4% em 2003 e com o 6,0% de hoje) (dados do IBGE). Então o quê? O que aconteceu ? O que mudou ?

Simples, no Brasil foi estrategicamente introduzido e aplicado com urgência, o modelo de desenvolvimento econômico que, nos EUA e na Europa, evoluiu a partir do pós-segunda-guerra. Mas com duas particularidades típicas brasileiras muito importantes, que podem levar a um futuro brilhante ou a um desastre completo. Mas vamos ver  o que tem a ver com o BF.

Lembra-se que até o início de 2000, o Brasil estava caracterizado por fortes desequilíbrios na distribuição da riqueza e consumido da hiperinflação. Analisando os fatos, este (modelo de) desenvolvimento econômico foi basicamente implantado e está sendo desenvolvido por meio de 4 fases. 1) As políticas de austeridade do presidente F.H. Cardoso, que aderindo as linhas do Fundo Monetário Internacional (FMI), gerou sim estabilidade mas, ao mesmo tempo, tendo contraído uma divida enorme, entregou o pais nas mãos das grandes potências da financia externa. 2) As políticas do presidente Lula que, beneficiando da estabilidade e envolvendo o dinheiro do FMI em incentivos, auxílios e subsídios, obtendo, desse jeito, um amplio consenso imediato, conseguiram desencadear circulação de liquidez criando, de fato, um novo tipo mercado (constituído por comércio e serviços e caracterizado por otimismo, dinamismo e faminto por novos modelos) e ampliando e fortalecendo uma nova estrutura de classe media (fase 3). Se, de fato, até este momento, a população estava acostumada a viver de uma certa maneira, digamos por exemplo, com um poder de compra de R$ 3 por dia, com essas manobras, de repente, encontraram-se na mão, e sem quaisquer requisitos especiais requeridos em troca, R$ 10. O fato é que, não sendo tido alterando o sistema a partir do ponto de vista estrutural, as pessoas continuaram a viver com R$ 3, colocando em circulação no mercado (ou seja, começando a comprar), uma nova liquidez (o surplus de R$ 7). 4) Mas chega a hora da fase 4, ou seja o resgate do credito dos poderes bancários e financeiros por meio de uma educação ao consumo através da ilusão de possibilidades, da propriedade e da riqueza, ou seja, criando o hábito para o comportamento da dívida. Exemplos? Minha casa minha vida ou o destaque das parcelas ao invés do valor total na exposição de qualquer produto em venda (No Brasil desde o 2007 a ​​dívida privada triplicou. +200 %). Moral da historia? Incentivo à dívida e educação ao consumo. Toda a região (e em particular Smo) é um excelente exemplo e produto prototípico dessa economia .

Mas até este ponto, estamos em um normal regime de crescimento econômico capitalista baseado na ilusão de riqueza. Então, em que diferencia-se e destaca-se o Brasil? Quais são as suas típicas características, acima anunciadas? O que tem a ver a Bolsa Família com esse acrescimento econômico?

Primeiro, todo esse desenvolvimento foi muito mais rápido do que a capacidade da política (e das mesmas estruturas psicológicas das pessoas) de adaptar o pais criando as bases de um ponto infra-estrutural, técnico, educativo e psicológico para manter e continuar o desenvolvimento: é um fato que o Brasil, apenas com as suas próprias forças, não consegue manter esse ritmo. o confirmam Marcelo Neri, ministro-chefe interino da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) e o ministro do Trabalho Manoel Dias destacando como: "após o crescimento de 7,5 % em 2010, para continuar a crescer a uma taxa de 3,5% é necessário abrir a importação de pelo menos 6 milhões de profissionais estrangeiros qualificados" e "hoje o Brasil precisa urgentemente passar de um número de estrangeiros de 0,2 % (o menor) a pelo menos o 3%" para não estourar a bolha da dívida e reduzir o desenvolvimento (por isso, de fato o PIB caiu para menos de 3% em 2011, para cair para 0,9% em 2012).

Segundo, o Brasil tem uma economia fechada, impulsionada pelo aumento desproporcionado dos salários e medidas protecionistas para o consumo doméstico; fica em último lugar entre de 179 países para as exportações em relação ao PIB: só o 13% de acordo com o Banco Mundial (BIRD).

Tudo isso concretamente significa que a "nova riqueza", o bolo do FMI, já foi distribuído para aqueles que foram capazes de pega-lo e, sem infraestruturas e experiência adequada, não há mais espaço para novas entradas no mercado, tanto de dentro como de fora. Novos ingressos não gerariam novas riquezas mas emagreceriam aquela já implantada e distribuída.

Mais trabalhadores, sem as infraestruturas e a preparação pra gerar novo mercado, significariam mais concorrência, maior competitividade mas menos clientes para cada um, salários mais baixos, lucros muito inferiores mas ainda as velhas dívidas a pagar. "Minha casa minha vida" ainda em obras.

Então, para ter o prazo para preparar-se e não perder rapidamente os benefícios do status-quo historicamente recém-adquirido, a única solução possível parece ser manter fora, enquanto possível, as ameaças externas (empresas estrangeiras e profissionais), com medidas protecionistas, assim como aquelas internas (o ingresso de outros trabalhadores) com medidas de auxilio e benefícios assistenciais.

Em outras palavras você não paga a bolsa família para mimar preguiçosos e afins, perdendo lucro, mas para excluir os concorrentes do mercado e assim continuar a ganhar o que ganha.

Bem, sob a luz dessas perspectivas, as duas válidas e com fundamento, o que você responde à pergunta original? 

Bolsa Família sim ou BF não? 

Comentários

  1. Deny. Parabéns pelo texto, faz refletir. Em relação ao que você escreveu "você não paga a bolsa família para mimar preguiçosos e afins, perdendo lucro, mas para excluir os concorrentes do mercado e assim continuar a ganhar o que ganha", é obvio que este raciocínio tem sentido. Porém, de que adianta o trabalhador ganhar mais se cada vez a parcela que o governo lhe morde, em forma de tributos (dos quais ele alimenta inclusive o bolsa-família) é cada vez maior, ou seja, no final sempre é a "sociedade" que vai pagar a conta. Abraço. Arthur

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  2. Obrigado para os parabéns Arthur e pelo comentário. Eu acredito que trocar ideias e expressar a própria opinião, para gerar reflexões e cultura para depois fundamentar a ação, seja o jeito mais nobre de evoluir.
    Mas vamos lá: ao que você refere-se quando fala de "sociedade"? No meu jeito de ver a "sociedade" refere a um sistema que inclui membros reconhecidos e caracterizados pelo mesmo critério de definição. No caso de uma sociedade-nação (o Brasil, nesse caso) o criterio é a cidadania, ou seja, a sociedade é aquele sistema que se refere e inclui todos os cidadões (e estrangeiros não clandestinos): mesmo que o Brasil seja um pais classista, com muitas sociedades na mesma "sociedade".

    Mas chegando ao ponto do sua tese Arthur, não paga-se os auxilios para não ter concorrência e assim ganhar mais mas não perder o que você está ganhando agora. Vamos a supor que "Fulan" que tem uma loja de sapato ganha agora limpo 10 R$; Desse 10 R$, 3 são cobrados por impostos (na Europa nenhum estado tem uma cobrança inferior a 4,5 R$) e desses 3R$, 1 vai para os auxílios (na verdade è o 0,66% de todo o fluxo de caixa do Estado Brasil). Agora, se já simplesmente uma pequena parte de quem não trabalha em razão de BF entrasse no mercado, Fulan passaria de ganhar 10 R$ a ganhar 5$, pagando 1,5% de impostos.Moral da historia? Pagando 1 R$ para a BF você está ganhando 7 R$ ao invés de 3,5 R$ e isso foi possível porque não toda a "sociedade" foi convidada a dividir o bolo do FMI (por exemplo investindo na instrução publica).

    Mas eu entendo que o esquema de raciocino que você argumentou bem reflete o jeito de pensar que a maior parte das pessoas pensam partindo a definir a realidade baseando-se sobre o que conhecem, enxergam e conhecem por meio da Tv. Por isso agradeço. De um ponto de vista do governo, com essa manobra o estado ganha 10 (de impostos) pagando apenas o 0,66% em Bolsas (tudo bem que poderiam ter sido envolvidos por infra-estruturas .. mas isso tive como conseqüência, ao invés do que um possível desenvolvimento em longo prazo (o prazo de uma mudança cultural), uma mudança rapidíssima (o desenvolvimento) necessário para os mercados de fora. O preço a pagar agora será uma fortíssima inflação.
    se não fizesse assim, simplesmente, ao invés de ganhar 10 R$ de impostos, economizaria o 0,66% mas ganharia 7,5%. Nesse sentido a linha é para a "sociedade", mesmo que não esteja a favor da classe media.
    de outro lado a explosão das universidades particulares bem testemunham tudo isso. tudo o mundo quer ter ambição para algo mais e ao mesmo tempo assim as pessoas ficam fora do mundo do trabalho (adiando a entrada dele no mercado .. pelo menos até quando vai ser tirado do forno o próximo bolo).

    sei que esse jeito de apresentar as coisas pode ser reconhecido como impopular porque apresento um quadro distante da própria experiência do dia a dia mas é por meio das diferencias e do desenvolvimento a enfrentar e superar diferencias e dificuldades que a gente cresce. O que acha? Tem sentido? abraço

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  3. Visualizou o Programa Bolsa Família de outros ângulos e, principalmente, com olhos apartidários. Este é o característico comentário inteligente e perspicaz, pois o colunista emite sua visão, mas, principalmente, leva o leitor a - necessariamente - interpretar e, sutilmente/indiretamente, participar do texto - como se fosse continuá-lo. Parabéns!
    Roger Brunetto
    Jornalista (MT/SC 4472)
    Acadêmico de Direito

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  4. Fico honrado do seu comentário Roger. Obrigado, de coração. Também acredito que a função de um colunista seja produzir pensamentos mais do que jogar opiniões pessoais (as quais as vezes podem acabar a ser utilizadas simplesmente como chaves para abrir o dialogo) e por isso espero que, ao longo do tempo, passada a novidade, o foco do debate e dos dialogos possam ser sempre mais focados sobre os conteúdos e menos sobre quem escreve. um grande abraço.

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